Fazer sempre ressoar o primeiro anúncio

O terceiro capítulo da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris laetitia, convida-nos a fixar os olhos em Jesus para entendermos um pouco melhor a vocação da família. A maneira como inicia é muito significativa:

“Diante das famílias e no meio delas, deve ressoar sempre de novo o primeiro anúncio, que é o «mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário» […]. É o anúncio principal, «aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra». Porque «nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio» e «toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma».” (Al, 58)

Aqui é dito, logo à partida, que a chave de leitura do que é afirmado em todo o capítulo é este anúncio primeiro e mais importante. E em que consiste este primeiro anúncio? O próprio texto diz-nos ao remeter-nos para as afirmações que o papa Francisco fez na sua primeira Exortação Apostólica Evangelii gaudium, ao falar na missão do catequista, e que são agora retomadas:

“Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar». Ao designar-se como «primeiro» este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos.” (EG, 164)

Este ponto de partida parece-me verdadeiramente significativo, pois diz-nos que a reflexão cristã acerca do matrimónio e da família deve decorrer deste anúncio e não o contrário, ou seja, não é a doutrina que tem a primazia. Com isto não estou a dizer que os ensinamentos doutrinais não sejam importantes, o que afirmo é que eles não podem ser vistos como um ponto de partida absoluto à luz do qual tudo deve ser avaliado. Pelo contrário, a sua importância decorre do anúncio primeiro que nunca pode faltar e que nunca pode deixar de ser proclamado para ser ouvido. E para que não fiquem dúvidas acerca disto o papa Francisco vai dizer, com toda a clareza, no nº 59 da Exortação Amoris laetitia: “O nosso ensinamento sobre o matrimónio e a família não pode deixar de se inspirar e transfigurar à luz deste anúncio de amor e ternura, se não quiser tornar-se mera defesa duma doutrina fria e sem vida.”

Ao contrário do que por vezes se ouve dizer, esta Exortação não apresenta a Doutrina do Matrimónio e da Família de uma maneira suave, encurtando os seus horizontes. Em vez disso, assume esse património riquíssimo da reflexão cristã, enquadrando-o naquilo que é a sua razão de ser e que consiste em ser tradução do amor e da ternura de Deus. Este é o núcleo do Evangelho, que deve transparecer em tudo o que a Igreja faz e diz. Este deve ser o critério a utilizar para aferir a fidelidade da ação e do ensinamento. É a partir dele que se deve interpretar a lei e desenvolver a reflexão. Este é o primeiro anúncio, verdadeiramente o mais importante, o que nunca pode faltar. Tudo o resto, por mais importante que seja, decorre daqui e não pode deixar de ser concretização desta realidade.

Texto: Juan Ambrosio in Jornal da Família – edição março

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