Porquê “mãe de sete” em livro?
Desde o nascimento da Leonor que eu partilhava com amigos e primos as graças e situações insólitas que me enchiam os dias e o coração. Diziam-me que deveria escrever estas histórias antes que as esquecesse. Eu achava impossível algum dia não me recordar mas, pelo sim pelo não, fui escrevinhando algumas coisas nos livros de bebé. À medida que a família foi crescendo, percebi que havia mães de amigos dos meus filhos que desabafavam comigo ou procuravam dicas, partilhavam dúvidas e incertezas. Senti que ficavam aliviadas quando eu dizia que tinha passado por experiências semelhantes e que tinha sobrevivido! Quando comecei a ter clientes de veterinária a ligarem-me para pedir conselhos sobre os filhos ou a comentar que se soubessem o meu “segredo” também teriam mais filhos, percebi que se calhar eu tinha mesmo a incumbência de partilhar o meu “segredo”! Quando fui contactada pela Livros Horizonte percebi que aquilo que eles procuravam era mesmo aquilo que eu queria contar. E assim foi concebido este livro – o meu 8.º bebé!!
Quais os principais truques para “sobreviver” ao dia-a-dia?
Organização, planeamento e algum jogo de cintura para conseguir repensar o dia quando alguma coisa inesperada acontece (que com sete filhos é uma ocorrência diária). As refeições têm de ser pensadas e preparadas, se possível, com alguma antecedência, as malas de escola, as mochilas de desporto, as lancheiras têm de estar arrumadas de véspera. Tenho um quadro no frigorífico com as atividades e disciplinas de cada um a cada dia – essencial no início do ano letivo até que se estabeleça uma rotina.
As rotinas são importantes e dão-nos (a pais e filhos) segurança e regras, mas penso que também é fundamental aprender a lidar com quebras e alterações destas rotinas quando acontece um imprevisto. É também uma forma de os ensinar a lidar com situações inesperadas e conciliar novos elementos no seu dia-a-dia sem que tudo o resto acabe por descarrilar.
Acima de tudo, é importante simplificar e descomplicar – são duas coisas diferentes. Simplificar tem a ver com: o Miguelinho e Vasco têm treinos de rugby no mesmo dia – largo os dois antes do treino do Vasco, o Miguel apanha os dois no fim do treino do Miguelinho – fazem os trabalhos de casa/estudos enquanto o outro treina. Assim eu posso ir andando para casa com os outros. Descomplicar é quando tenho um daqueles dias em que tudo corre ao contrário e não consigo adiantar o jantar à hora de almoço e depois há urgências veterinárias que não podem ser ignoradas ou despachadas. Nesses dias, se os banhos são mais a correr, se ao jantar não há sopa ou se o Francisco chega a casa a dormir e vai diretamente para a cama, não é o fim do mundo, nem significa que eu sou má mãe.
Ser mãe de sete filhos é um esforço sobre-humano ou um enorme prazer?
Felizmente rio muito mais do que choro e dou muitos mais mimos do que ralhetes. Talvez durma menos do que gostaria no dia-a-dia mas VIVO cada minuto que estou acordada! Tenho dias difíceis e as preocupações de qualquer pai são as que nos assolam também, mas não são 7 vezes maiores – são só as mesmas repetidas mais vezes. Não trocaria a minha vida pela de mais ninguém no mundo.
Como se conciliam sete filhos, uma profissão e um casamento?
Eu acho que ajuda muito à minha própria sanidade mental poder ser eu, Mariana (Mãe, Veterinária, Mulher do Miguel, Bodysurfista, Presidente da Associação UWC Portugal, Filha, Irmã, Prima, Nora, Cunhada, Tia, Madrinha, Amiga… são tantos os nomes que nos descrevem que não dá mesmo para os incluir a todos) em qualquer lado. Quando eu consigo ser só eu, com todas as facetas que isso inclui, aí estou bem e feliz e a minha família também. Eles sabem com o que podem contar e sabem que, se não estou a trabalhar, o que mais quero é estar com a minha família.
Assim talvez o recado aqui mais importante seja aproveitar bem o tempo e VIVER o tempo que temos uns com os outros. E isto é importante para o casal também. Tentamos criar o nosso espaço de tempo sem outras exigências – um bocadinho todos os dias quando as crianças estão deitadas. Entre o casal especialmente, mas acaba por aplicar-se a todos na família, tem de haver sempre muito espaço para perdão, humildade e compreensão, mas sempre, sempre, muito amor.
Que conselhos daria às mães?
Não se conformem, não deixem de sonhar e não deixem de ser vocês mesmas. Vocês são a primeira inspiração dos vossos filhos. Não deixem que outros imponham os seus padrões do que significa ser boa mãe. Sejam as melhores do mundo para os filhos que fazem de si MÃE. Eles só querem que sejamos a melhor expressão de nós mesmas e nós merecemos esse autorreconhecimento – que estamos a tentar ser o melhor possível com as ferramentas que temos.
E um último segredo: sabem aquela mãe que está sempre em controlo total de qualquer situação? Os filhos dela também conseguem que ela perca completamente as estribeiras e que berre como uma peixeira… a sério.
Texto: Helena Gatinho / Pais & Filhos – 26 abril 2017