Nascido em “Terras de Santa Maria”, no interior do país profundamente cristão, o jovem Alves Brás cresceu com o amor a Nossa Senhora no coração. Em 1917, ano das aparições da Cova da Iria, o Pe. Alves Brás entra no Seminário do Fundão. No inicio dos anos 30, quando o Pe. Brás fundou a Obra de Santa Zita (OSZ), de apoio às empegadas de servir, na altura denominada Obra de Previdência e Formação das Criadas – O.P.F.C., a Igreja declarava “dignas de crédito” as aparições de 1917 e autorizava oficialmente o culto a Nossa Senhora de Fátima. Coincidências que apenas vieram reforçar a devoção a Maria do fundador da Família Blasiana. Na sequência da mensagem de Fátima, Monsenhor Brás recomendava a devoção das três Avé-Marias, a oração do terço e do rosário a todas as associadas da OSZ, Cooperadoras e famílias.
Desde cedo, o Pe. Brás começou por promover as peregrinações a Fátima das criadas de servir. Um acontecimento que marcava a vida destas jovens e que serviu também para incrementar a devoção a Nossa Senhora de Fátima um pouco por todo o país. O jornal “Voz das Criadas”, mais tarde “Bem-fazer”, fundado pelo Pe. Brás para contribuir para a formação e informação desta classe social, dava conta, em 1948, de uma grande peregrinação que levou a Fátima, nos dias 11, 12 e 13 de junho, cerca de 5.000 criadas de servir vindas de todo o país. Nunca em Fátima “se reuniram tantas pessoas pertencentes a uma única classe”, afirmava o jornal.
No dia 13 de junho a peregrinação passava por Lisboa para um gesto inédito. Milhares de criadas de servir da capital e de todo o país juntavam-se na Basílica da Estrela para oferecerem a Nossa Senhora de Fátima uma coroa de ouro e pedras preciosas. O jornal “Voz das Criadas” conta que as criadas ” tiraram dos dedos os seus anéis, das orelhas os brincos, do pescoço as fieiras, medalhas e cordões, para mandarem fabricar aquela coroa que entregaram nas mãos do Exmº Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, para com ela cingir a fronte da Serva do Senhor”. E a coroa fabricada com o ouro das criadas de Portugal corou a imagem da Virgem de Fátima.
Lisboa viveu nesse dia uma verdadeira enchente, conta o jornal “Voz das Criadas”. A Basílica da Estrela e o Largo circundante “apinharam-se de criadas e pessoas de todas as classes sociais”. O jornal acrescenta que “durante o coro falado e o Adeus à Virgem vimos muitas pessoas tomadas de comoção, saltando-lhes as lágrimas pela face”.
Na Peregrinação Nacional das Criadas de 1951, por exemplo, o jornal dá conta que de Lisboa saíram 21 camionetes com mais de 800 criadas e do Porto 11 camionetes com mais 400. Nas peregrinações da O.P.F.C as criadas de servir iam todas trajadas com o uniforme de sócias da Obra e o percurso da peregrinação era acompanhado por uma camionete-trono engalanada de flores, que levava uma imagem da Virgem de Fátima. Por onde passava juntava multidões que a vinham venerar.
O ano de 1958 foi ano de Bodas de Prata da O.P.F.C e a Peregrinação Nacional das Criadas a Fátima foi um momento de “apoteose deslumbrante” conta o jornal “Voz das Criadas”. Ao dirigir-se aos milhares de criadas presentes, o Pe. Alves Brás agradeceu à Virgem a fundação da O.P.F.C, pediu a Deus novas graças para a Obra, a santificação de todas as opefecistas e das suas famílias e famílias a quem serviam.
Nesta peregrinação foi também abençoada uma imagem da Virgem de Fátima que seguiu depois, em camionete ornamentada, para a casa fundadora da Obra, na Guarda. A saída da imagem, depois da Procissão do Adeus, foi também um momento “esplendoroso” conta o jornal . “ À frente a camionete-andor com Nossa Senhora num autêntico artístico trono de flores em cujo sopé se prostravam encantadoramente quatro anjos em adoração. Atrás vinha o comboio gigantesco de 83 camionetes transportando as peregrinas que, nas diversas passagens das camionetes por Nossa Senhora a acalmavam com entusiasmo, devoção e amor, lançando, a rodos, sobre a berlinda armada em trono, pétalas de lindas flores”, conta o jornal. Por todos os locais por onde passava o cortejo havia” caminhos atapetados de verdura, os muros e janelas adornados com as mais ricas colgaduras e à beira dos caminhos multidões de crianças, jovens e velhinhos caíam instintivamente de joelhos implorando as bênçãos da Mãe do Céu”.
A Peregrinação Nacional das Criadas era um momento de devoção das criadas a Nossa Senhora de Fátima mas era também um momento que marcava a vida das localidades por onde a imagem que acompanhava as peregrinações passava. Por isso não será despropositado dizer que estas peregrinações foram, ao longo dos anos, impulsionadoras da devoção do povo português à Virgem de Fátima.
Ao longo dos anos as peregrinações a Fátima, primeiro da O.P.F.C., depois da Obra de Santa Zita foram uma constante. Em 1994 teve lugar a primeira peregrinação da família Blasiana que para além de integrar a OSZ integra também os Centros de Cooperação Familiar, o Instituto Secular das Cooperadoras da Família, o Movimento por um Lar Cristão e os Focos de Esperança.
No ano em que se celebra o Centenário das Aparições a Família Blasiana orgulha-se do legado espiritual deixado pelo Venerável Pe. Brás de devoção à Virgem de Fátima.
Texto: Jornal da Família – edição maio 2017