Foi esta a expressão mais repetida nestes dias, em que a tragédia se abateu, violentamente, sobre pessoas, bens e regiões. “Não era provável, nem imaginável que houvesse um fenómeno que atuasse com este nível de destruição…”. Tomadas por total pânico, a violência do que viam acontecer, era de tal ordem, que a todos desorientou, mesmo aos que deveriam ter dado uma orientação mais eficaz.
A tragédia e as suas inúmeras e irreparáveis perdas, estão aí. Pouco adianta andar agora à procura de culpados, ou de quem errou na orientação que deu. É preciso é saber discernir as mudanças que se impõem, para evitar catástrofes semelhantes.
É lamentável e constrangedor ver aquela mancha verde em chamas e ou em cinzas, zonas paradisíacas a desaparecer; ver as pessoas a chorar os bens porque tanto lutaram e, sobretudo, aceitar que famílias inteiras e pessoas singulares, tenham morrido daquela forma tão absurda e trágica. A onda de solidariedade gerada, em todo o país, e até no estrangeiro, é intensa e é louvável, mas nada pode reparar do que foi vivido, do que foi consumido e sobretudo as perdas humanas.
As lições a tirar daqui são imensas e não podem ser negligenciadas.
Os fogos são uma realidade complexa e a sua origem, deve-se a fatores de natureza diversificada: a irreverência da natureza, a jogos de interesses comerciais e políticos, a atitudes terroristas, à maldade humana, a muita negligência, à ausência do sentido do bem comum, à ausência de leis que regulem o ordenamento florestal e façam cumprir o que a cada um diz respeito.
Todos os anos os fogos vêm a debate público, mas na prática, não há medidas que travem efeitos tão perversos. Muitas vezes, alude-se a este ‘flagelo’, como um fenómeno inevitável. O investimento e as discussões geradas, parecem orientar-se mais para a aquisição de meios para combate, do que princípios e procedimentos que ataquem o mal pela raiz, evitando-o. A natureza é irreverente, e por isso, não se compadece com a inércia e adiamentos sucessivos.
Pelas mudanças climáticas, mas também pela redução drástica da produção agrícola no país, há muitos terrenos e matas ‘de ninguém’, espaços propícios a estas situações. Neste sentido, as medidas a aplicar para alterar a realidade, têm que ser concretas e exequíveis, incluindo regulamentação de medidas punitivas. Os fogos constituem um crime público.
Apreende-se em tudo isto, a necessidade de formação e educação para a cidadania, que desperte a corresponsabilidade e o sentido do bem comum. Cuidar e salvar a ‘casa comum’, é tarefa de todos e não apenas do estado. Se cada um cuidasse dos espaços envolventes aos seus pertences, certamente que se amenizavam algumas tragédias, desta natureza. Tantas vezes as situações de puro vandalismo e gratuita destruição, são reflexo dessa ausência de cidadania e participação na construção do bem comum.
A família e a escola, no modo como lidam e se comportam com estas realidades e no modo como educam e formam para um relacionamento respeitoso com elas, têm um papel ímpar.
Em sistemas democráticos, a cidadania, prescreve direitos e deveres a serem partilhados por todos. Daí a necessidade de dar força a determinadas medidas que possam ser educativas, e ao mesmo tempo, possam garantir a ordem e respeito. Há que estabelecer prioridades mesmo na Assembleia da República. Algumas vezes, priorizam-se assuntos mais do foro pessoal e ideológico em detrimento destas realidades mais abrangentes e contundentes. Cuidar e salvar a ‘casa comum’, reclama uma mudança de paradigma nas escolhas e prioridades.
Vieira Maria