O pátio da casa encheu-se de cor e alegria. O mês de junho é mês de santos populares e o São Pedro é o preferido por estas paragens. Os meninos do Jardim de Infância da Obra de Santa Zita (OSZ) da Póvoa do Varzim ensaiavam para o São Pedrinho e a Pequenada. Um evento, promovido pela autarquia, que reúne todas as instituições dedicadas à infância num desfile protagonizado pelos mais pequenos. “Os meninos ensaiam durante dias as rusgas”, conta Cristina Teixeira. Educadora de Infância nesta casa há oito anos, Cristina explica que as marchas populares são aqui chamadas de “rusgas”. “As crianças vestem-se a rigor, com roupas típicas, e desfilam pelas ruas da Póvoa para orgulho dos pais”.
A vivência dos Santos Populares é apenas uma das muitas atividades que vão pautando o dia a dia da Creche e Jardim de Infância da OSZ da Póvoa do Varzim. Uma casa que abriu portas em 1962, ainda durante a vida de monsenhor Alves Brás. Na altura dedicava-se à formação de empregadas de serviço doméstico. Mas a proximidade da praia também a transformou em colónia de férias para crianças. A valência de infantário começou quando os pais de três crianças não tinham local para as deixar enquanto iam trabalhar. Nos anos de 1980 a OSZ transformou-se numa Instituição Particular de Solidariedade Social com as valências de Creche e Jardim de Infância.
A OSZ da Póvoa de Varzim acolhe atualmente 87 crianças entre os quatro meses e os seis anos de idade. À frente da instituição estão as Cooperadoras da Família (Rosa Magalhães, Laurinda Pereira, Celeste Menoita e Etelvina Cardoso) que tentam colocar em prática o seu carisma que assenta no serviço à família. “Muitas crianças entram aqui às 7h30 e saem daqui às 19h”, afirma a Cooperadora Rosa Magalhães. Os valores cristãos são o traço diferenciador. “As outras casas podem pautar-se por valores humanos, mas nós aos valores humanos juntamos os valores cristãos”, afirma a também Diretora Pedagógica da instituição. Em cada ano o Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF) lança um desafio. Este ano foi trabalhar a exortação apostólica Amoris Laetitia. Um desafio também lançado aos pais. Muitos nunca tinham ouvido falar do documento, outros achavam que já não precisavam de ser doutrinados mas todos colaboraram nas atividades. “Nós tentamos através dos filhos chegar aos pais, é uma espécie de catequese”, afirma Rosa Magalhães. E chega-se aos pais envolvendo os filhos nas atividades, todas elas ligadas ao tema da família. À volta do lema “Família, berço de ternura”, proposto pelo ISCF, as crianças de creche trabalharam o tema: “O mundo maravilhoso da família” e as crianças do pré-escolar o tema: “Família, a minha e a dos outros”.
Na sala dos quatro anos Francisca explica que está a fazer um trabalho que consiste em pintar “quatro bolinhas”. À sua volta, todos os meninos se debruçam sobre uma folha de papel onde o número quatro é o centro da azáfama. A Educadora Luciana Pinto ajuda-os nas diferentes tarefas enquanto explica que, logo no início do ano, avisa os pais “que até os meninos saírem daqui vão trabalhar sempre a família e os valores que lhe são inerentes”. Valores como o amor, a solidariedade, a amizade ou o perdão.
Uma tarefa que nem sempre é fácil numa altura em que a família está longe de ser o modelo estereotipado defendido pela igreja católica: um matrimónio, um pai e uma mãe numa relação estável entre eles e com Deus. “Nós temos aqui crianças de famílias que vivem em união de facto, filhas de pais divorciados, famílias destruturadas e até crianças que foram retiradas aos pais”, afirma Rosa Magalhães. “Mas são todos bem-vindos. São as famílias que temos. São as famílias que temos que apoiar”, acrescenta.
Paula Monteiro trabalha nesta casa há 25 anos. É com orgulho que fala do trabalho que ali desenvolve, dos “seus” meninos e da participação dos pais nas iniciativas promovidas pela OSZ. “Ainda este ano, cada família criou um brasão com caixas de fósforos que agora estão espalhadas pelas salas. No Natal cada família enfeitou uma bola para a árvore de Natal da instituição. Houve também uma Semana da Família e os pais vieram cá participar e desenvolver atividades com os meninos. A festa do final de ano envolve sempre os pais e as crianças”, conta a Educadora Paula Monteiro.
Esperança Boucinha é outra das colaboradoras da Instituição e está também nesta casa há 25 anos. Já viu passar por aqui várias gerações de meninos e já está a receber os filhos dos primeiros meninos que por aqui passaram. Quando lhe pergunto se encontra muitas diferenças entre os meninos de hoje e os primeiros meninos que aqui acolheu não tem dúvidas na resposta: “Os meninos de agora não cumprem regras. É difícil controlar uma sala indisciplinada e lidar com muitas personalidades”. A razão para esta indisciplina, afirma Esperança Boucinha, “está na educação dos pais que se tem vindo a revelar mais permissiva”.
Com mais ou menos dificuldade em controlar a indisciplina os meninos são também educados na fé católica. A visita regular à capela talvez seja o grande fator diferenciador das outras instituições.
As 18 colaboradoras vestem também a camisola do carisma e tentem transmitir aos pais a importância de educar os filhos nos valores cristãos e humanistas. “No início do ano fiz um jogo em que perguntava aos pais porque é que eles colocaram os filhos nesta intuição e eles responderam que era porque queriam que os filhos tivessem ligação com estes valores”, conta a Educadora de Infância Adriana Ferreira, que também é catequista. E alguns dos pais nem são católicos. Fruto dos fluxos migratórios há aqui famílias vindas de outras culturas e com outras religiões mas que aceitam que os seus filhos sejam educados segundo os valores cristãos.
Texto: IM/Jornal da Família – edição julho 2017