Famílias como sujeitos evangelizadores de outras famílias

O presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família CELF) apelou à criação de “um grupo de Pastoral Familiar em cada vigaria, em cada paróquia”. D. Joaquim Mendes falava na abertura do 29º Encontro Nacional da Pastoral Familiar que decorreu nos dias 11 e 12 de novembro, em Fátima. O presidente da CELF desafiou também a Igreja a “criar uma rede de famílias capaz de acompanhar outras famílias” para “revitalizar a vocação missionárias das  famílias cristãs”.

“A Pastoral Familiar”, afirmou D. Joaquim Mendes, “consiste na evangelização das famílias” e estas devem “ser sujeitos de evangelização”. O presidente da CELF acredita que estas Jornadas possam contribuir para uma renovada Pastoral Familiar, para que o Evangelho da Família seja alegria e esperança para o mundo e para as famílias”.

Estas Jornadas que decorreram neste sábado e domingo, no Centro Paulo VI, em Fátima, foram promovidas pelo Departamento Nacional da Pastoral Familiar e partiram do lema “O Evangelho da Família, alegria para o mundo”. Estiveram de olhos  postos no IX Encontro Mundial das Famílias que se realizará em Dublin, entre os dias 22 e 25 de agosto de 2018.

“O evangelho tem de ser uma boa notícia para todas as famílias”

Juan Ambrosio foi o orador convidado e trouxe a estas Jornadas uma reflexão intitulada “O Evangelho da Família – redescobrir, viver,  anunciar”.  Teólogo e professor da Universidade Católica Portuguesa, Juan Ambrosio começou por fazer o enquadramento do tema.  

Quando se fala de família, fala-se de “crise” mas a “crise” deve ser vista como “um tempo oportuno”. Há que transformar “para edificar um mundo novo” e “construir um novo paradigma”.  A este diagnóstico o Papa Francisco responde que a Família é o “ berço da vida” e “é aqui que Francisco coloca na Família o ponto fulcral da construção de um novo paradigma”, afirmou Juan Ambrosio. Uma afirmação que justifica passando em revista os documentos papais como a Evangelii Gaudium, a Laudato Si , a bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Misericordiae vultus, a carta apostólica Misericordia et mísera, por ocasião do encerramento do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, ou a Exortação Apostólica Amoris Laetitia.

Pegando no tema do IX Encontro Mundial das Famílias ““O Evangelho da Família: Alegria para o mundo”, Juan Ambrosio defende que o Evangelho deve ser “das Famílias” porque sempre houve várias formas de realização da família. “O Evangelho tem de ser uma boa notícia para todas as famílias mesmo aquelas que estão em situação frágil e em rutura. Não pode ser só para os que estão cá dentro”, explica.

Na segunda parte da conferência Juan Ambrosio lançou pistas sobre a forma como se pode “redescobrir”, “viver” e “anunciar” o Evangelho da Família.

Pode-se “redescobrir” olhando a Família como “uma realidade boa da criação” em que a experiência cristã a “torna ainda mais saborosa”. Pode-se redescobrir a Família no “amor”. Para Juan Ambrósio o casamento não é bom por ser matrimónio “é bom por ser amor”.

Pode-se viver o Evangelho na Família na “experiência fundamental do ser. No ser “filho”, no ser “irmão” no ser “pai”, no ser “mãe”. Na aprendizagem da linguagem com que se diz a totalidade do homem quer seja “no bem comum” quer seja no “cuidado com o outro”.

Pode-se anunciar o Evangelho da Família aprendendo a ser “uma Igreja poliédrica, levando a sério a diversidade dos itinerários cristãos”. Mas sempre sublinhando a “nuclearidade  do amor na existência humana”. “Aquilo que faz verdadeiramente da Família peça nevrálgica está no amor. O que acontece no Matrimónio e na Família é a forma mais densa e qualificada da vocação humana para o amor”.  Para Juan Ambrosio a sacralidade do Matrimónio enraíza-se na “vivência do amor humanocomo expressão de comunhão e realização pessoais e como sinal privilegiado do amor de Deus pela humanidade, não obstante as fragilidades , debilidades e contradições humanas”.

Em termos de Pastoral Familiar, Juan Ambrósio defende que o serviço à Família deve ser “uma dimensão essencial de qualquer comunidade humana” e que o “serviço primeiro de uma comunidade cristã deve ser um serviço às famílias, não só as cristãs”.

O  que esperam os jovens da Família e da Igreja?

Ainda no primeiro dia de Jornadas os jovens foram também convidados a dar o seu testemunho sobre a forma como as suas famílias vivem o Evangelho.   Com as reflexões já proporcionadas pelo Sínodo sobre a Família e com os olhos postos no Sínodo sobre os Jovens, agendado para 2018,  a Pastoral Universitária do Porto trouxe a estas Jornadas Xavier Pereira, Margarida Maia e Carlos Grijó. Cada um testemunhou a sua vivência de Igreja em Família.  O Xavier marcado pela vivência dos pais ligados ao Opus Dei, a Margarida ligada ao Movimento Focolares e o Carlos fazendo parte das  Equipas de Jovens de Nossa Senhora. Todos falaram do ambiente marcadamente cristão que vivem em família  e a forma como este foi construindo aquilo que são hoje.

Mas o que esperam os jovens da Família e o que poderá fazer a Igreja pela Família? Xavier espera da Família “apoio” e “saber escutar”. Quanto à Igreja, tem pela frente o desafio trazido pelos “temas fraturantes”: os “recasados” ou os “homossexuais que adotam crianças”. Para este jovem estudante de medicina a Igreja ainda não tem uma resposta para estas problemáticas.

Margarida sente-se uma privilegiada porque tem  a sorte de ter em casa  três irmãos e  os pais para a ouvirem. E quanto à Igreja, Margarida falou do apoio que a comunidade dos Focolares dá aos que se preparam para o matrimónio e aos recém-casados. 

Carlos espera que a Família seja uma “rocha na qual se possa “apoiar” e um “lugar de amizade”. Quanto à temática dos recasados defende que a maior parte dos casais “não vive nessa situação” e a “Igreja precisa de falar da Família de uma forma mais geral”.

Viver o Evangelho da Família

O segundo dia de Jornadas trouxe o testemunho de quem, em vários setores, ajuda a viver o Evangelho da Família.

Cristina Sá Carvalho do Secretariado Nacional de Educação Cristã (SNEC) veio falar do trabalho levado a cabo pelo Departamento de Catequese, não sem antes apresentar a recente Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) intitulada: “Catequese: A Alegria do Encontro com Jesus Cristo”.

A diretora do Departamento de Catequese do SNEC passou em revista o trabalho que tem vindo a ser feito na catequese da infância, da adolescência e dos adultos. “Catequese de Adultos”, “Catequese Familiar” ou  “Escola Paroquial de Pais” são projetos que têm vindo a ser desenvolvidos com vista a envolver pais e crianças na educação cristã.

Mas fase à crescente dificuldade de, nos dia hoje, se educar os filhos, Cristina Sá Carvalho pedia aos casais ligados à Pastoral Familiar para proporcionarem nas suas comunidades “Educação Parental”.

Dois casais ligados aos Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM):  Graça e Marco e Esmeralda e Paulo deram o seu testemunho de anúncio do Evangelho da Família através do trabalho que desenvolvem na preparação dos casais que se preparam para o Matrimónio e no acompanhamento da vida de outros casais.

O último painel das 29 ª Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar terminou com o testemunho da Família Power: Niall e Teresa e os seus seis filhos,  a família fundadora do movimento Famílias de Caná. Teresa e Niall testemunharam a forma como vivem o Evangelho na Família quer seja através do tempo que dedicam à sua própria família, aos outros ou na oração em família.

O apoio das Cooperadoras da Família

À semelhança de anos anteriores,  os casais que se fizeram acompanhar pelos filhos nestas Jornadas contaram com o apoio das Cooperadoras da Famílias. Durante o decorrer dos trabalhos 24 crianças estiveram ao cuidado de várias Cooperadoras que ao longo dos dois dias dinamizaram várias atividades tendo por base os valores da Família. Para além do convívio e da realização de atividades pedagógicas, no sábado as crianças assistiram ao filme de animação “Divertida-Mente” e à tarde desenvolveram atividades no Lar Betânia, a cargo das Cooperadoras da Família. O dia terminou com uma visita à instituição onde as crianças ofereceram aos idosos cartões  com frases alusivos à “Alegria” e ao “Amor” elaborados pelos próprias crianças durante a tarde.

As Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar contaram com cerca de 400 participantes.

Texto: IM/Jornal da Família – 12.11.2017

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