Viver a Alegria do Amor

Ao longo de vários artigos fomos percorrendo os diversos capítulos da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, tentando compreender um pouco melhor a reflexão que nela é proposta, bem como a identificar, com mais precisão, as interpelações que dela decorrem.

Como é óbvio, as diversas notas que fui desenvolvendo e os diversos sublinhados que fui fazendo decorrem da minha reflexão pessoal, não pretendendo ser, em nenhum momento, a palavra definitiva e última sobre as temáticas apresentadas. Tal palavra, aliás, não me parece possível, pelo menos no sentido de tentar encerrar a reflexão numa determinada direção, afirmando que já não há nada de novo a destacar. Essa também não é, no meu entender, a posição do próprio papa ao longo do texto. Considero, até, que um dos grandes objetivos desta Exortação foi o de desencadear uma reflexão e um discernimento sobre realidades que todos sabíamos que estavam aí, mas que parecíamos ignorar, ou, pelo menos, evitar, procurando arranjar explicações (desculpas e justificações) para a sua existência, de modo a não ter que as enfrentar verdadeiramente. Mas a realidade acaba sempre por ser superior à ideia, como nos vem lembrando sucessivamente o Papa Francisco, e a reflexão não pode mais ser parada.

É verdade que, no exercício dessa reflexão, temos assistido a diálogos pouco edificantes, com afirmações e acusações que nos parecem difíceis de sustentar entre aqueles que se dizem irmãos e unidos pela mesma fé. Em bom rigor, algumas das coisas que vamos ouvindo até nos levam a interrogar se é efetivamente da mesma fé que se trata, tal a diferença de posições e perspetivas. A verdade, porém, é que o diálogo está a acontecer, não sendo mais possível que tudo fique na mesma. Esse é já, para mim, um dos primeiros e bons frutos de todo este caminho aberto pela Exortação, apesar do tom desapropriado manifestado por alguns dos protagonistas desse diálogo.

Na conclusão deste conjunto de artigos quero partilhar convosco, queridos leitores do Jornal da Família, algumas das palavras que o papa Francisco dirigiu, numa vídeo mensagem, aos participantes do III Simpósio Internacional sobre a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, convocada pela Pastoral da Família da Conferência Episcopal Italiana, com o tema: O Evangelho do amor: entre a consciência e a norma (Roma 11/11/2017).

Logo no início da mensagem o Papa afirma:

“o amor entre homem e mulher é uma das experiências humanas mais férteis, é fermento da cultura do encontro e traz ao mundo de hoje uma injeção de socialização: o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja”

E, um pouco mais à frente, ao lembrar o que já tinha dito na Amoris Laetitia sobre a missão de formar as consciências e não de substituí-las, destaca:

 “no íntimo de cada um de nós existe um lugar onde o Mistério se revela e ilumina a pessoa, tornando-a protagonista da sua história. A consciência, como recorda o Concílio Vaticano II, é este ‘núcleo secreto’, o sacrário do homem, onde ele fica sozinho com Deus, cuja voz ressoa na intimidade”.

Sinceramente penso que o Papa nos convida a entender que, em última instância, é a partir desse ‘núcleo secreto’ que se deve desenvolver todo o processo de discernimento a que se refere a Exortação. Por isso lembra, na vídeo mensagem que “o cristão deve vigiar para que nesta espécie de tabernáculo não falte a graça divina, que ilumina e fortalece o amor conjugal e a missão parental.”

Já no final da mensagem expressa o seu desejo de que o Simpósio possa ajudar a assimilar e desenvolver os conteúdos e o estilo da Amoris Laetitia, e que possa igualmente contribuir para a formação dos animadores de grupos familiares em paróquias, associações e movimentos; e amparar o caminho das famílias, ajudando-as a viver a alegria do Evangelho e a ser células ativas na comunidade.

Essa intenção – ajudar a formar as consciências e não a substituí-las – foi também a que esteve sempre presente ao longo de todos estes momentos de partilha. Espero e desejo sinceramente que eles possam ter sido uma ajuda, mesmo que pequena, para melhor compreender e viver a alegria do amor.

Texto: Juan Ambrosio – Jornal da Família – edição dezembro 2017
          juanamb@ft.lisboa.ucp.pt 

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