De 3 a 5 de fevereiro o Papa Francisco realizou, aos Emirados Árabes Unidos, uma viagem apostólica, por muitos já qualificada como histórica. No decorrer dessa mesma viagem teve a ocasião de participar num encontro inter-religioso e de assinar, conjuntamente com o imã da mesquita de Al Azhar, um importantíssimo documento sobre a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum. Apesar de referidos em alguns meios de comunicação social, julgo que estes acontecimentos não tiveram o destaque merecido, pelo que aqui os partilho com os nossos leitores.
No encontro inter-religioso, o papa, lembrando o também histórico encontro de S. Francisco de Assis com o sultão al-Malik al-Kamil apresentou-se como um crente que quer procurar a paz com os irmãos. Para Francisco, o momento histórico que estamos a viver exige que todos os crentes sejam capazes de se unir para, no respeito pelas suas identidades, ousarem construir um mundo diferente. Essa é a mensagem que quer partilhar e que fica bem explícita quando apresenta o logotipo que foi criado para esta sua viagem:
“O logotipo desta viagem representa uma pomba com um ramo de oliveira. É uma imagem que nos traz à memória a narração do dilúvio primordial, presente em várias tradições religiosas. Segundo a narração bíblica, para preservar a humanidade da destruição, Deus pede a Noé para entrar na arca com a sua família. Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca de fraternidade.”
Partilho totalmente esta ideia. Também eu me conto entre aqueles que estão cada vez mais convencidos do papel fundamental que as diversas tradições religiosas são chamadas a assumir a este nível. Elas têm de ser canais de fraternidade e não barreiras de separação. O diálogo, baseado na sinceridade das intenções e na procura do melhor bem para todos, e a oração, feita com um coração sincero, são elementos preciosos que não podem faltar neste desafio que se levanta à fraternidade humana. E não tenhamos ilusões, como o próprio Papa afirma, não há alternativa: ou construímos juntos o futuro ou não haverá futuro.
Recorrendo de novo à imagem da pomba da paz, o papa Francisco apresenta a educação e a justiça como as duas asas que são necessárias para que a paz possa definitivamente ser sustentada.
A educação, porque:
“como homens e mais ainda como irmãos, lembremos uns aos outros que nada do que é humano nos pode ficar alheio. Em ordem ao futuro, é importante formar identidades abertas, capazes de vencer a tentação de se fechar em si mesmas e empedernir-se.”
A justiça, porque:
“não se pode crer em Deus sem procurar viver a justiça com todos, como diz a regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 12).”
O desafio que se levanta é imenso e ele só será vencido se formos mesmo capazes de, como uma única família, construirmos a arca da fraternidade. A este nível julgo ser fácil perceber a importância verdadeiramente decisiva da família, tal como é explicitamente afirmado no documento sobre a Fraternidade Humana:
“A propósito, é evidente quão essencial seja a família, como núcleo fundamental da sociedade e da humanidade, para dar à luz filhos, criá-los, educá-los, proporcionar-lhes uma moral sólida e a proteção familiar. Atacar a instituição familiar, desprezando-a ou duvidando da importância de seu papel, constitui um dos males mais perigosos do nosso tempo.”
Vivemos verdadeiramente um tempo em que se estão a forjar os novos paradigmas das sociedades futuras. Deles dependerá o rosto da humanidade no futuro. Também hoje, como sempre, a família será o berço dessa nova humanidade.
Juan Ambrosio
Docente UCP