Desejava ser Padre ao menos um ano e veio a ser uma figura que deixou um rasto notável na igreja e na sociedade portuguesa. Ao assinalar os 120 anos da sua morte e por desafio de César Craveiro, Presidente da União de Freguesias de Casegas e Ourondo, a Câmara Municipal da Covilhã homenageou esta personalidade no seu salão nobre. Um conjunto de oradores intercalados com algumas peças musicais dos Alunos da Escola Profissional EPABI e a presença de uma significativa multidão, deram corpo a esta homenagem, realizada com nobreza, familiaridade e simplicidade.
Das várias intervenções, partilhamos com os leitores do Jornal da Família, fundado também este pelo Venerável Pe Brás, algumas considerações:

César Craveiro, tendo conhecido o Pe Brás, recordou-o nestes termos: “recordo o homem sempre apressado, a coxear, que calcorreava as ruas de Casegas, a visitar os doentes ou a caminho da Igreja. Recordo-me ainda da campanha do ovo pensada pelo Pe Brás, que reverteu para o lambrim de azulejo que ainda hoje reveste o interior da igreja, da autoria do arquiteto, Fernando Barros. A sua capacidade criadora e empreendedora levava-o a estar presente e a implicar-se em todas as iniciativas da comunidade. Manifestando o orgulho de toda a população Caseguense e a sua gratidão por esta homenagem, disse: Casegas é terra de inúmeros Padres e outros homens ilustres, mas nenhum chegou tão alto e foi tão longe como o Pe Brás”.

Uma das sobrinhas do homenageado, Maria do Céu Brás, nas suas palavras recordou “o episódio que o levou a estar retido durante três anos numa cama, quando tinha onze anos. O Pe Brás, testemunha, era uma pessoa austera e muito reta, não admitia meias medidas. As suas raízes afundam numa família reta, unida, de visão alargada, inteligente que do pouco fizeram muito. Nunca esquecia a sua terra natal”.

Postulador da causa de canonização do Pe Brás, Mons. Arnaldo Pinto Cardoso, entre outras afirmações, referencia: “Este é um momento para homenagear uma grande figura portuguesa. A sua ação não se confinou a estas terras beirãs. Trata-se de um coxo que pôs Portugal a andar, pelo que, não só a Igreja, mas toda a sociedade deve reconhecer a sua pessoa e a sua obra. Mencionando as inúmeras iniciativas por ele realizadas na cidade da Covilhã, como em quase todas as cidades de Portugal, disse: “O Pe Brás, deu brio e competência profissional a muitas jovens raparigas. A história da sua vida e ação estava marcada por quatro vetores existenciais: (1) Homem da igreja. Ser padre, na plena aceção da palavra, o seu grande sonho e a sua grande preocupação. Vivia numa constante procura da verdade, da justiça, da liberdade, valores evangélicos que foram sempre a essência da sua pessoa e do seu agir; (2) Mestre e pedagogo, tanto na evangelização como na ação social realizada; (3) Realismo nas situações e pragmatismo nas atitudes. Experienciava uma grande dor pela humanidade; (4) Homem de ideias claras, de convicção firme; de uma fé inquebrantável, uma vontade indomável, mas de grande humildade, capaz pedir desculpa pela sua forma impulsiva de agir”.

Bispo da Diocese de origem do Pe Brás, D. Manuel Felício, entre outras afirmações, disse: “Nestes 120 anos, dou os parabéns ao seminário da Guarda que recebeu este homem, que pôs a andar muita gente e a andar belos projetos. Este homem, interpela toda uma sociedade com gestos muito concretos de solidariedade e compaixão, abrindo novas clareiras para estas jovens raparigas, desprovidas de tudo. Nós os padres, ou somos padres a respirar a beleza de Deus, ou a nossa vida não faz sentido. O Pe Brás soube abrir este caminho de solidariedade pastoral aos futuros padres, dava-lhes o exemplo. Não ficava em casa sentado no ‘quentinho’, mas percorria aquelas ruas da Guarda para ver por detrás das cortinas os problemas humanos, dando esperança e confiança a quem sofre. As árvores conhecem-se pelos frutos e na verdade os frutos que nasceram da vida deste homem, dizem da qualidade e da grandeza de alma que o habitava.

Coordenadora atual do Instituto Secular das Cooperadoras da Família, uma das instituições Fundadas pelo Pe Brás, Mª Alice Marques Cardoso, agradeceu na pessoa da Vereadora da Cultura da Câmara da Covilhã, a feliz iniciativa de homenagear este ilustre filho da terra, Ven. Pe. Joaquim Alves Brás, qual figura carismática que soube ler e interpretar os sinais dos tempos numa perspetiva dinâmica e pragmática… Num contexto social marcado por grandes assimetrias, geradoras de extrema pobreza e muita miséria material e moral, o Pe. Brás não pôde ficar indiferente, tinha que agir, pois a dignidade das pessoas estava a ser ferida e desrespeitada, o que para ele constituía uma ofensa ao próprio Deus. Afirmava com convicção: “A família é a pedra angular do edifício social”, “a sua grandeza ou decadência acompanha sempre a grandeza ou decadência dos povos” (Ven. Pe. Brás).A Obra do Pe. Brás foi, paulatinamente, fazendo o seu caminho e alastrando, sem barulho, a sua ação de bem-fazer a todo o país. Passado o impacto avassalador da perda humana do seu Fundador, as Cooperadoras da Família, continuadoras do seu legado, colocaram mãos à obra… As transformações sociais, económicas, políticas e eclesiais foram muitas, mas as Cooperadoras da Família, não pararam e a obra do Pe Brás foi-se adequando às novas conjunturas e enquadramentos legais.

Por último, a Vereadora com o pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Covilhã, Regina Gouveia, sublinhou “a importância desta homenagem a um homem que defendeu valores de uma ética cristã incontestáveis, mesmo humanamente, para o bem comum. Preocupou-se com a mulher, na altura demasiado vulnerável e desprotegida. Joaquim Alves Brás luta incansavelmente, pela dignidade e pelos direitos da mulher e da família. Fundou uma obra tão sustentada em valores e estratégias. Teve visão no pensar e no agir. Conseguiu ser inspirador. E é inspirador ouvir as atuais Cooperadoras falarem dele hoje. Foi profeta de felicidade para muita gente. É fundamental assegurar e fazer passar este legado a outras gerações, pelo que recomendo, vivamente, que se visite a casa museu, em Casegas, na qual se pode conhecer, mais a fundo e em pormenor, esta personalidade e as obras por ele fundadas”.
Joaquim Alves Brás nasceu em Casegas a 20 de março de 1899 e faleceu em Lisboa a 13 de março de 1966.
Conceição Vieira – Cooperadora da Família
(edição de abril do Jornal da Família)