Em jeito de brincadeira – mas falando muito a sério -, costumo dizer que 87% dos pais portugueses, por amor, educam mal os filhos. E até se esquecem que, desta forma, estão a condicionar, profundamente, o futuro dos filhos.
A mania do superprotecionismo (somos dos países do mundo que mais superprotege os filhos) para que nada de mal aconteça aos filhos impera na grande maioria dos lares. Esquecem-se estes pais que nunca conseguem eliminar os riscos e que a dor pode ser amiga, como nos dizia há uns anos, o bem conhecido (e insuspeito) psicólogo Eduardo Sá: “As pequenas dores fazem bem ao crescimento. Educam para alguma imunidade ao sofrimento. (…) Está-se perigosamente a cair numa leitura mais ou menos fundamentalista em relação aos sofrimentos das crianças, como se toda a dor fosse uma nódoa difícil. E não é. (…) Uma sociedade que confunde a ausência da dor com o prazer não é amiga da humanidade (…) nem da bondade. É mais amiga do mal do que do bem” (Revista Expresso de 24/11/2012).
Tudo na vida nos confirma esta realidade.
Vejamos como biologicamente atua o nosso corpo. Ele precisa de saber resistir aos ataques das bactérias e dos vírus. Por isso, é bom as crianças, em pequenas, terem determinadas doenças a fim de o organismo aprender a reagir positivamente. E quando não as têm, até são vacinadas, ou seja, são-lhes injetados micróbios de determinadas doenças para que o corpo aprenda a combatê-los. Pretende-se, pois, que o nosso organismo conviva diretamente com os agentes agressores a fim de saber defender-se nas adversidades.
Vejamos, agora, este significativo exemplo da natureza – a “lição da borboleta”, de autor desconhecido, e que nos dá uma lição de Vida, assente num Deus que nos educa “como deve ser”, para sermos felizes:
Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo. Um homem sentou-se e observou por várias horas. A borboleta esforçava-se para fazer com que o seu corpo passasse através daquele pequeno buraco. Então pareceu que ela tinha parado de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia fazer mais. Então o homem decidiu ajudar a borboleta. Ele pegou numa tesoura e cortou o restante do casulo. Então, a borboleta saiu facilmente. Mas o seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observar a borboleta. Ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se esticassem para serem capazes de suportar o corpo. Nada aconteceu!Na verdade, a borboleta passou todo o tempo da sua vida rastejando com o corpo murcho e as asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, na sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo com que Deus fazia que o fluído do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de forma a que ela estivesse pronta para voar, logo que saísse do casulo.Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos na nossa vida. Se Deus nos permitisse passar a vida sem quaisquer obstáculos, Ele deixar-nos-ia aleijados, nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar. Eu pedi força…e Deus deu-me dificuldades para me fazer forte. Eu pedi sabedoria…e Deus deu-me problemas para resolver. Eu pedi prosperidade…e Deus deu-me cérebro e músculos para trabalhar. Eu pedi coragem…e Deus deu-me obstáculos para superar. Eu pedi amor…e Deus deu-me pessoas com problemas para ajudar. Eu pedi favores…e Deus deu-me oportunidades. Eu não recebi nada do que pedi…mas eu recebi tudo de que precisava!
Não evitemos, pois, no crescimento normal dos nossos filhos, as dificuldades, os obstáculos, o esforço. Não evitemos a “dor”. Porque ela, afinal de contas, é nossa amiga.
Jorge Cotovio
jfcotovio@gmail.com
Artigo da edição de junho do Jornal da Família