Dando resposta a uma sugestão do então secretário geral da ONU, Kofi Annan, por ocasião do 10º aniversário do ano internacional da família, a Organização Mundial da Família, juntamente com um conjunto de Universidades e Organizações não Governamentais suas filiadas, tomou a iniciativa de realizar anualmente uma Cimeira Mundial sobre a família.
O principal objetivo das várias edições da Cimeira é promover o contributo da família para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de uma grande parceria em ordem a construir um futuro com mais paz, segurança, justiça, tolerância, solidariedade, prosperidade e integração, mobilizando e promovendo aquela que é a unidade base económica, política, sociocultural e sustentável da sociedade, que é a família.
As Cimeiras Mundiais da Família querem ser um legado para as gerações futuras, por meio do compromisso de todos os setores da sociedade, numa opção de comum e mútua aprendizagem, diálogo e ação.
É verdade que as diversas temáticas abordadas ao longo destes encontros raramente incluíram uma reflexão religiosa ou teológica e que, muitas vezes, foram afirmadas e partilhadas posições que entram em conflito com a visão cristã da vida e da família, mas talvez isso não seja suficiente para justificar a ausência das instituições cristãs destes fóruns. Damos muita importância às temáticas relacionadas com a família, mas nem sempre estamos atentos àquelas iniciativas que, sobre esta realidade, se levam a cabo noutros âmbitos que não os cristãos. Julgo mesmo que esse é um hábito que devemos alterar, pois a reflexão e perspetiva cristãs certamente enriquecerão o que nesses encontros se reflete, tal como o que neles se partilha certamente poderá ajudar a aprofundar e consolidar a própria reflexão cristã. Atrevo-me mesmo a adjetivar de necessária e indispensável essa partilha, uma vez que o mundo global em que vivemos não pode continuar a ser edificado sem um dialogo e uma ação que envolvam todos.
A edição deste ano decorreu de 13 a 15 de maio em Lisboa. Este importante acontecimento passou praticamente desapercebido, motivo pelo qual decidi partilhá-lo convosco. No documento de trabalho distribuído a todos os participantes apresentava-se a seguinte visão:
“A humanidade alcançou nas últimas décadas progressos sociais e económicos sem precedentes. No entanto, esses progressos foram desiguais. Em todos os lugares, alguns indivíduos e grupos confrontaram-se com barreiras que os impediram de participar plenamente na vida económica, social e política, deixando-os para trás. O foco da Agenda 2030 e a aspiração central da Cimeira Mundial da Família 2019 é destacar a inclusão da família no processo de desenvolvimento, de modo a que nenhuma família seja deixada para trás. Para isso é necessário fortalecer as autoridades locais e as famílias, em ordem a construir cidades e comunidades humanas inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.”
Leave no family behind (não deixar nenhuma família para trás) esse era o lema desta Cimeira. Certamente que muitos e variados terão de ser os caminhos de concretização deste objetivo. Certamente que não estaremos de acordo com todos. Mas o que não podemos deixar de fazer é de dar o nosso contributo para promovê-lo, porque não deixar nenhuma família para trás é também o objetivo da proposta cristã. Também a este nível ganharemos muito mais, promovendo o encontro entre todos aqueles que têm responsabilidades na dignificação da(s) família(s).
Juan Ambrosio
juanamb@ft.lisboa.ucp.pt
Artigo da edição de junho do Jornal da Família