Recentemente a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma Carta Pastoral intitulada «Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da Doutrina Social da Igreja (2 de maio de 2019). O objetivo da mesma parece-me bem importante e vem explicitamente referido no início:
“Move-nos, nesta Carta, o desejo de ajudar os católicos do nosso País e tantos outros portugueses a abraçar os principais desafios com que hoje se deparam no mundo em geral e especialmente em Portugal e na Europa.
Fazemo-lo à luz dos princípios da doutrina social da Igreja, que é a um tempo perene na solidez desses princípios e rica de contínuos aprofundamentos que vão acompanhando os chamados sinais dos tempos. Revela, por isso, uma constante atualidade e pode dar um contributo fecundo para os rumos da atual sociedade.”
A partir das páginas do nosso querido «Jornal da Família» já várias vezes tenho chamado a atenção para a importância do momento presente que estamos a viver, destacando como nele se estão a forjar os ‘novos paradigmas’ que irão presidir a edificação das nossas sociedades no futuro próximo. O papel que os cristãos são, neste contexto, chamados a desempenhar é tão importante e fundamental que o considero mesmo um dos traços a partir do qual podemos aferir a fidelidade da nossa fé. Não tenho dúvidas em afirmar que o contributo dos cristãos para a construção do futuro é também uma das dimensões da missão cristã. Como cristãos somos chamados a cuidar desta casa comum, para que ela possa mesmo ser uma casa para todos, onde não haja espaço para ‘sobrantes’, nem ‘descartados’.
De um modo claro e inequívoco a Carta Pastoral afirma e proclama que toda a vida humana tem igual valor e que a pessoa é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais, de tal modo que se pode mesmo afirmar que o grau de humanidade de uma civilização se pode aferir pelo cuidado com que esta trata todo o ser humano, especialmente os seus elementos mais débeis (cf. nº 1).
Destaca-se também a importância fundamental da procura do bem comum que é, como o próprio texto refere, o bem de todo e cada um, sem ser a ditadura da maioria:
“O bem comum é o bem de todos e de cada um. Não é a soma de bens individuais; mas também não é o bem de um todo que se sobrepõe às partes; porque cada parte, cada pessoa, tem um valor por si mesma, é um “todo” por si mesma. Não é, por isso, o bem do “maior número” numa perspetiva utilitarista, de uma maioria que sacrifica bens fundamentais da minoria.” (nº 2)
O cuidado da casa comum constitui, como não podia deixar de ser, uma preocupação bem presente neste documento. A este propósito lembra-se que o destino universal dos bens prevalece sobre o direito à propriedade; incentiva-se a uma melhor distribuição dos rendimentos para a construção de uma sociedade mais coesa e aponta-se a solidariedade com as gerações futuras como um elemento a nunca esquecer no cuidado da criação. (cf. nº 3)
Apoiando-se no princípio da subsidiariedade defende a existência de um Estado que não seja nem centralizador, nem mínimo, tendo como missão regular as iniciativas da sociedade civil, apoiando-as e suprindo as suas insuficiências, sempre à luz da procura do bem comum. (cf. nº 4)
Por tudo isto esta Carta Pastoral me parece tão importante, e, por isso, lhe faço aqui referência, convidando à sua leitura.
Quando penso na importante e indispensável missão das famílias na educação das gerações futuras, não posso deixar de sublinhar como os pontos atrás destacados terão de ser também referenciais a ter presentes na própria experiência familiar. Se eles fizerem parte do crescimento dessas gerações certamente farão também parte do futuro que não podemos deixar de construir. A exigência deste desafio é também, para mim, um inequívoco ‘sinal dos tempos’.
Juan Ambrosio
juanamb@ft.lisboa.ucp.pt
Artigo da edição de julho do Jornal da Família