Edificar a sociedade. Um ‘sinal dos tempos’

Juan Ambrosio convida à leitura da Carta Pastoral da CEP sobre Doutrina Social da Igreja. Descubra porquê neste artigo da edição de julho do Jornal da Família.

Recentemente a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma Carta Pastoral intitulada «Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da Doutrina Social da Igreja (2 de maio de 2019). O objetivo da mesma parece-me bem importante e vem explicitamente referido no início:

“Move-nos, nesta Carta, o desejo de ajudar os católicos do nosso País e tantos outros portugueses a abraçar os principais desafios com que hoje se deparam no mundo em geral e especialmente em Portugal e na Europa.

Fazemo-lo à luz dos princípios da doutrina social da Igreja, que é a um tempo perene na solidez desses princípios e rica de contínuos aprofundamentos que vão acompanhando os chamados sinais dos tempos. Revela, por isso, uma constante atualidade e pode dar um contributo fecundo para os rumos da atual sociedade.”

A partir das páginas do nosso querido «Jornal da Família» já várias vezes tenho chamado a atenção para a importância do momento presente que estamos a viver, destacando como nele se estão a forjar os ‘novos paradigmas’ que irão presidir a edificação das nossas sociedades no futuro próximo. O papel que os cristãos são, neste contexto, chamados a desempenhar é tão importante e fundamental que o considero mesmo um dos traços a partir do qual podemos aferir a fidelidade da nossa fé. Não tenho dúvidas em afirmar que o contributo dos cristãos para a construção do futuro é também uma das dimensões da missão cristã. Como cristãos somos chamados a cuidar desta casa comum, para que ela possa mesmo ser uma casa para todos, onde não haja espaço para ‘sobrantes’, nem ‘descartados’.

De um modo claro e inequívoco a Carta Pastoral afirma e proclama que toda a vida humana tem igual valor e que a pessoa é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais, de tal modo que se pode mesmo afirmar que o grau de humanidade de uma civilização se pode aferir pelo cuidado com que esta trata todo o ser humano, especialmente os seus elementos mais débeis (cf. nº 1).

Destaca-se também a importância fundamental da procura do bem comum que é, como o próprio texto refere, o bem de todo e cada um, sem ser a ditadura da maioria:

“O bem comum é o bem de todos e de cada um. Não é a soma de bens individuais; mas também não é o bem de um todo que se sobrepõe às partes; porque cada parte, cada pessoa, tem um valor por si mesma, é um “todo” por si mesma. Não é, por isso, o bem do “maior número” numa perspetiva utilitarista, de uma maioria que sacrifica bens fundamentais da minoria.” (nº 2)

O cuidado da casa comum constitui, como não podia deixar de ser, uma preocupação bem presente neste documento. A este propósito lembra-se que o destino universal dos bens prevalece sobre o direito à propriedade; incentiva-se a uma melhor distribuição dos rendimentos para a construção de uma sociedade mais coesa e aponta-se a solidariedade com as gerações futuras como um elemento a nunca esquecer no cuidado da criação. (cf. nº 3)

Apoiando-se no princípio da subsidiariedade defende a existência de um Estado que não seja nem centralizador, nem mínimo, tendo como missão regular as iniciativas da sociedade civil, apoiando-as e suprindo as suas insuficiências, sempre à luz da procura do bem comum. (cf. nº 4)

Por tudo isto esta Carta Pastoral me parece tão importante, e, por isso, lhe faço aqui referência, convidando à sua leitura.

Quando penso na importante e indispensável missão das famílias na educação das gerações futuras, não posso deixar de sublinhar como os pontos atrás destacados terão de ser também referenciais a ter presentes na própria experiência familiar. Se eles fizerem parte do crescimento dessas gerações certamente farão também parte do futuro que não podemos deixar de construir. A exigência deste desafio é também, para mim, um inequívoco ‘sinal dos tempos’.

Juan Ambrosio 
juanamb@ft.lisboa.ucp.pt

Artigo da edição de julho do Jornal da Família

Partilhar:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
Relacionado

Outras Notícias

Peregrinação a Donas para fazer memória do Pe. Brás

No próximo dia 14 de setembro a Família Blasiana peregrina a Donas, paróquia nos arredores do Fundão onde o Pe. Joaquim Alves Brás foi pároco de 1925 a 1930. Um evento inserido no contexto do Ano Jubilar que está a assinalar os 100 anos de Ordenação Sacerdotal do Fundador da Família Blasiana.

Ler Mais >>

(II) Padre Joaquim Alves Brás – Cem anos de Sacerdócio em prol da Família

“A minha casa, não será uma casa de portas fechadas, para os habitantes desta freguesia, mas todos, todos, terão nela entrada”, afirmou o Pe. Alves Brás, há cerca de 100 anos, na sua primeira homilia. ”Todos, todos”, palavras que mais recentemente ecoaram pelo mundo quando foram proferidas pelo Papa Francisco na JMJ Lisboa 2023. Um artigo de Conceição Brites que demostra como o Pe. Brás foi um homem à frente do seu tempo.

Ler Mais >>

(I) Padre Joaquim Alves Brás – Cem anos de Sacerdócio em prol da Família

“Celebrar cem anos de ordenação sacerdotal do Padre, Monsenhor, Joaquim Aves Brás é tomar consciência que o que vamos celebrar são mesmo os cem anos do seu sacerdócio, e não apenas os quarenta e um anos que ele exerceu cá na terra”, afirma a Cooperadora da Família Conceição Brites num artigo que recorda a primeira homilia do Pe. Brás na Paróquia de Donas.

Ler Mais >>

“O Botãozinho” – 50 anos a inovar e a educar nos valores

Começou com 30 crianças, divididas por duas salas. Hoje acolhe 260 em 14 salas, mas o espaço continua a ser pequeno para a procura. O Centro de Cooperação Familiar, Creche e Pré-escolar “O Botãozinho”, celebrou 50 anos de vida. Meio século marcado pela inovação e pela fidelidade ao carisma das Cooperadoras da Família.

Ler Mais >>

Ousar contemplar e testemunhar a beleza

Parar para contemplar a beleza da humanidade e dela ser testemunho. O convite é de Juan Ambrosio e bem que pode começar a ser posto em prática nestes dias onde a rotina de um ano de trabalho dá lugar a dias mais descansados.

Ler Mais >>

“ Os Pais não têm prazo de validade”

A presença dos pais na escola é fundamental para um acompanhamento do percurso educativo de crianças e jovens. Independentemente do ciclo educativo que frequentem, Goretti Valente convida os pais a irem à escola.

Ler Mais >>