Uma igreja menos burocrática e mais acolhedora para os casais jovens. A ideia foi defendida por Miguel Almeida, sacerdote jesuíta, que esta manhã participou, em Fátima, na 31ª Jornada Nacional da Pastoral Familiar, que este ano refletiu sobre o discernimento e o acompanhamento dos casais jovens.
Reconhecendo que a generalização pode ser injusta, Miguel Almeida defendeu que os vários organismos da Igreja deveriam ser “mais lugares de acolhimento do que lugares burocráticos”.
Em entrevista ao Jornal da Família, após uma conferência sobre o ‘Acompanhamento nos primeiros anos de vida matrimonial’, o sacerdote jesuíta afirmou que “se nos primeiros contactos a conversa é ver se a pessoa cumpre todos os requisitos, a pessoa sente-se fora”.
Muitas vezes, os casais jovens chegam à Igreja em união de facto, divorciados ou recasados, chegam com filhos para batizar mas eles próprios não receberam o sacramento do matrimónio ou os padrinhos não fizeram o crisma. “Às vezes estamos tão preocupados que as coisas corram bem segundo os cânones que nos pode escapar que, antes de mais nada, temos pessoas que precisam de ser acolhidas”, afirmou Miguel Almeida.
Acolhimento não deve ser “uma ação de marketing“ mas deve existir porque as pessoas precisam de ser acolhidas. Depois do acolhimento é que se pode partir para “processos de acompanhamento, esperando que a pessoa faça o seu caminho e encontre na Igreja um lugar, uma ‘família de famílias’”, afirmou o padre Miguel Almeida, recordando as palavras do Papa Francisco.
D. Armando Domingues, membro da Comissão Episcopal do Laicado e Família, reconhece que é “sempre desmotivador quando se encontra esta Igreja velha, esta Igreja fiscalizadora, que diz ‘Eu tenho razão’. Esta Igreja já devia ter acabado”. O também bispo auxiliar do Porto defende “uma Igreja que diz ‘Anda cá. Vamos, meu filho! O que é que precisas? Vamos descobri o que Deus espera de ti´”.
Para D. Armando “mais do que um curso” a Igreja deve dar a estas pessoas “um percurso e só depois todos os cursos que forem preciso. É muito mais que receitas ou sacramentos, é dar-lhes Jesus Cristo”. Um trabalho, considera, que está a ser feito. “A Igreja é uma Igreja peregrina” e lembrou os desafios à mudança da Encíclica Amoris Laetitia.
Da parte da tarde, o sacerdote João de Deus Costa Jorge trouxe o tema da “ajuda” para reflexão. “Eu quis chamar a atenção para o significado de ‘ajudar’ que é ‘promover’”. O sacerdote, que também é psicólogo, refletiu sobre as dinâmicas de interação na família e de que forma são geradoras de conflito, numa conferência intitulada “A arte de ajudar os casais jovens: acolher – motivar – envolver”.
No decorrer da jornada, vários casais estiverem no palco do salão do Bom Pastor, no Centro Paulo VI, para apresentarem o trabalho que têm vindo a desenvolver na área do acompanhamento de casais jovens. O percurso TADEM ligado ao Movimento Equipas de Nossa Senhora e o projeto ARCO, ligado ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, foram dois dos percursos apresentados.
A Jornada Nacional da Pastoral Familiar, iniciativa do Departamento Nacional da Pastoral Familiar, contou este ano com 311 inscritos vindos das várias dioceses e dos vários movimentos e organismos que, no terreno, trabalham as problemáticas da família.
Presentes estiveram três casais do Movimento por um Lar Cristão (MLC), movimento ligado ao Instituto Secular das Cooperadoras da Família. Entre eles esteve o recém-eleito casal presidente, Anabela e Aires Freitas. “Viemos buscar formação. Ouvir estes conferencistas enriquece-nos muito e eles ajudam-nos a acolher melhor todos os casais que quiserem fazer parte do MLC”, afirmou Anabela Freitas.
Esta jornada contou ainda com as Cooperadoras da Família no apoio a todos os pais que quiseram trazer os seus filhos. Durante o tempo da jornada quatro Cooperadoras dinamizaram várias atividades para cerca de 20 crianças e jovens.