Este ano de 2020 o Jornal da Família celebra 60 anos de vida. Não é este o lugar mais propício, nem eu sou a pessoa mais indicada para fazer a sua história. Não a conheço o suficientemente bem, nem sequer sou um dos seus principais protagonistas. Mas apesar disso, não posso aqui deixar de fazer referência a este acontecimento tão importante, pois este Jornal, como bem sabem, já há algum tempo é uma realidade na minha viva e no meu trabalho.
Já noutras ocasiões tive a oportunidade de partilhar o lugar tão especial que ocupam as Cooperadoras da Família no meu coração. Não é esta a ocasião para repetir isso, basta lembrar que quando estava longe de casa e da minha família a estudar, me acolheram como um membro da sua própria família. O carinho e a amizade que desde então tenho recebido delas são uma realidade constante. Em momentos muito importantes da minha vida, difíceis e dolorosos uns, bons e de festa outros, sempre se fizeram presente. Guardo muitos rostos concretos, tenho bem presente os seus nomes que aqui não quero partilhar porque reservo para o mistério da oração, e Deus, que vê no segredo, lhes dará a recompensa por todo o bem feito.
Pouco tempo depois da minha estadia em Madrid na casa das Cooperadoras começou a minha colaboração neste Jornal. Desde então para cá tenho sido um dos residentes da sua última página, num exercício mensal de escrita que me dá, não o escondo, algum trabalho, mas que é principalmente fonte de uma grande alegria,já que me permite realizar simultaneamente duas coisas: manter a proximidade com as minhas queridas amigas e aprofundar sempre um pouco mais algumas temáticas relacionadas com a família.
A leitura o estudo e a reflexão sobre a família constituem, como também é sabido por muitos dos leitores, um dos filões importantes do meu trabalho. Também como muitos sabem, uma vez que tenho tido a oportunidade de o partilhar convosco em muitas destas linhas, a experiência familiar é algo de absolutamente fundamental para mim. Nela tenho a sorte e a possibilidade de viver com o sabor do infinito. Viver com o sabor do infinito é aliás o título de um Livro que recolhe alguns dos contributos aqui escritos ao longo dos anos. Como veem são muitos os motivos que tenho para agradecer no contexto deste aniversário.
Aliás ao logo deste ano terei bem presente este motivo celebrativo. Não o vou fazer simplesmente olhando para o passado, tentando destacar o muito que este Jornal tem feito pelas famílias. Não será certamente essa a minha principal perspetiva, se bem que me pareça muito importante fazer memória disso. O esquecimento é uma das principais patologias das nossas sociedades, e eu não quero contribuir para isso. A memória do bem que é feito ao longo dos tempos tem de ser destacada, tem de se fazer presente, não para ficar agarrado a esses tempos, mas para aprender deles, para deixar que nos possam continuar a inspirar no presente e a ajudar a perspetivar o futuro. Na medida em que me for possível, e esforçar-me-ei para que o seja, tentarei visitar alguns dos exemplares mais antigos deste jornal para fazer a devida memória deles. Este será um dos pequenos contributos que quero dar para esta celebração. O outro decorre daqui. Percebendo um pouco melhor a história do nosso Jornal poderei ficar mais apto para ajudar a caminhar no futuro. Sim, porque a celebração dos 60 anos não pode deixar de se virar para o futuro, continuando a tentar responder aos desafios que se levantam à sua missão. Desafios que terão certamente contornos diferentes daqueles a que estamos habituados, desafios que certamente exigirão ousadia e criatividade. Mas a fidelidade ao espírito do fundador a isso compromete todos os colaboradores destas páginas.
Ficam assim lançadas, de um modo geral, as grandes linhas que orientarão o meu exercício de escrita durante esta comemoração.
O rosto deste jornal aos 60 anos certamente que tem rugas resultantes das canseiras e das dificuldades. Certamente que algumas delas podem também traduzir algum desânimo e mesmo alguma incerteza. Esses traços fazem parte de todos os rostos. Mas também fazem parte, e as rugas do rosto também traduzem isso, muitos momentos de alegria e muitas conquistas, muita vida intensa e apaixonadamente vivida. O jornal da família tem sido essencialmente isso: o rosto da paixão pela vida familiar.
A celebração destes 60 anos são o momento para continuarmos e aprofundarmos este caminho.
Juan Ambrosio
juanamb@ft.lisboa.ucp.pt
Artigo da edição de janeiro do Jornal da Família