Ser missionária em tempo de pandemia

Novos contornos e novas dificuldades para a missão em tempo de pandemia. A Cooperadora Páscoa Fonseca dá-nos o seu testemunho a partir da missão de Cabinda.

 “A esperança é um pouco como o fermento, que torna grande a tua alma. Há momentos difíceis na vida, mas com a esperança caminha-se em frente.” 
                                                                                                                                                   (Papa Francisco)

Ser missionária em tempo de Covid torna a missão, ainda mais um ato de fé, que vai mais além do que sair da zona de conforto.

Ser missionária neste tempo que estamos a viver é muito estranho. O afastamento a que nos vemos forçadas, quando o nosso objetivo como missionárias, era exatamente a proximidade com as comunidades, o passar recíproco dos conhecimentos e experiências, ferramentas que tão necessárias são para o desenvolvimento de um povo que após décadas de guerra continua a estar vulnerável, porque a guerra tudo destruiu e a reconstrução de um país devastado demora tempos quase infinitos. 

Sobretudo é muito estranho ouvir a polícia e os meios de comunicação social a pedir às pessoas que saiam das ruas e que fiquem em casa, quando a vida aqui é vivida nas ruas e as casas são quase somente para dormir. E torna-se ainda mais estranho que as populações que vivem do comércio informal (nas ruas) estejam impedidas de o fazer, que os mercados estejam abertos por umas horas e com muitas limitações. As pessoas aqui não têm despensa, compram a cada dia aquilo que comem, não têm recursos para se abastecer. 

Porém, há que criar alternativas estratégicas para lidar com esta realidade causada pela pandemia, colocando-nos à prova, desafiando-nos a ter reflexões mais profundas, a pensar no verdadeiro sentido da vida. Estamos confiantes de que na fé, na esperança, na caridade e com resiliência consigamos ultrapassar estes tempos. 

Entretanto a preparação para o matrimónio tem sido um desafio para nós. Como Cooperadoras da Família, assumimos esta tarefa pastoral com empenho e dedicação, pois faz parte da nossa missão, proporcionando aos jovens casais um conhecimento mais profundo dos dinamismos da vocação matrimonial cristã. 

O mesmo acontece com a catequese, dentro das nossas possibilidades, estamos profundamente comprometidas na catequese a nível paroquial e diocesano.  É necessário reinventar, redefinir os espaços onde nos movemos e continuar o percurso que foi começado pelas Cooperadoras que nos antecederam.

Mais que nunca a missão não é só fora de portas, também olhamos a situação como uma oportunidade pessoal e de grupo de deixar que o Senhor sacuda a nossa vida, algumas vezes tíbia e superficial, é também celebrar o encontro com o nosso Deus que quer restaurar-nos, purificar-nos, elevar-nos, santificar-nos e dar-nos a felicidade que o nosso coração anseia.

Este é também um momento propício para aprofundarmos os conhecimentos que fomos ‘arrumando anteriormente’, criar laços e fazermos mais família no grupo das Cooperadoras da Família e das comunidades (eclesial e social) das quais fazemos parte e nos acolhem.

Não obstante, e a braços com o impacto multifacetado da pandemia, sentimos que se torna difícil prosseguir quando a missão, aquela que estamos habituados, está literalmente ao nosso lado e não a podemos abraçar no seu todo…

Já não são as dificuldades logísticas, nem os recursos, nem as saudades, o grande desafio. O verdadeiro e grande desafio é enfrentar o tempo, suportar a espera, numa atitude de fé e confiança, até que chegue o momento da retoma.

Confiamos tudo ao cuidado do ‘Dono da messe’, Ele que é um Deus fiel, que nos surpreende continuamente, rasga os nossos horizontes e diz-nos: Confia em Mim, não tenhas medo, Eu estou contigo, vem e segue-Me.

Agradecemos profundamente todo o apoio que temos recebido das pessoas nossas amigas, e sobretudo de Portugal os cuidados que temos recebido de todo o ISCF, a todos os níveis. 

Estamos juntos…

Cabinda, 23 de agosto de 2020
Pelo grupo – Maria Páscoa Fonseca

                                                  Artigo da edição de outubro do Jornal da Família

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