São 63 anos de vida, 41 dos quais ao serviço da Igreja no Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF). Arminda de Jesus Baptista nasceu em Santiago da Guarda, concelho de Ansião, e cedo soube o que era a vida no campo. Desde muito nova ajudava os pais nas hortas e com os animais.
Após a 4ª classe, a falta de uma escola pública por perto impediu-a de continuar a estudar mas o pai prometera-lhe que regressaria mal abrisse por aqueles lados uma escola gratuita. Entretanto Arminda rumou a Coimbra para trabalhar na casa de uma família. A promessa do pai cumpria-se anos mais tarde, quando Arminda tinha 17 anos e abrira na terra natal uma escola pública. Mas Arminda já não regressou. Ficou pela casa da família que lhe deu a oportunidade de continuar a estudar e a trabalhar e assim ajudar financeiramente os pais e os irmãos.
A decisão
Aos 20 anos, Arminda começa a namorar com o compromisso que só casaria quando acabasse o curso. Mas o namorado queria casar. “Eu achei que ele tinha o direito de casar e eu tinha o direito de continuar a estudar sem um compromisso maior”, conta Arminda. O namoro terminou e Arminda começou a pensar numa paixão que alimentava há anos: ir para o interior do país ajudar as famílias mais pobres. “Eu tenho um outro sonho, vou estudar e depois decidir o que faço”, pensou na altura.
Ao mesmo tempo recordava os sucessivos convites que recebia da Cooperadora Maria das Dores, que visitava a família onde morava em Coimbra, para participar nas reuniões na Obra de Santa Zita. Um dia foi. E assim começou a sua caminhada no ISCF. “Deixei-me seduzir por Deus”, conta Arminda, e no dia 29 de setembro de 1980 entra no Instituto. Esteve em Fátima, Coimbra e Carcavelos até que surgiu o desafio do Brasil onde chegou a 7 de outubro de 1990.
31 anos de presença no outro lado do atlântico já lhe vincaram o sotaque e quando lhe perguntamos pela saudade responde entre risos: “nem tenho tempo de ter saudades, tanto os afazeres e desafios que tenho pela frente e a amizade que se vai construindo vai superando a saudade”. Para Arminda “o lugar é cada um que o faz na medida que construindo um ambiente bom acabamos por viver num ambiente bom”.
A missão no Brasil
Quando chegou ao Brasil, Arminda limitou-se a observar a realidade, depois passou a assumir a catequese, a liturgia e impulsionou a Pastoral Familiar ao ponto de a implementar mais tarde em várias paróquias e dioceses. Hoje é coordenadora e pedagoga de uma creche fundada em 1981 pelas Cooperadoras da Família. Mas o trabalho na Pastoral Familiar é a sua paixão. “Estamos a trabalhar com jovens casais, na preparação para a vida matrimonial e antes da pandemia tínhamos começado a pensar com muito carinho em fundar o ramo da Pastoral de Acompanhamento a casais em segunda união”, conta Arminda.
“Há uma mentalidade muito secularista no seio dos casais, também fruto da independência financeira. Se dá, dá, se não dá, não dá”, afirma esta Cooperadora. Depois há também a enorme influência dos media em relação a outros tipos de uniões. “Está-se a criar uma mentalidade em que o povo acha que tudo é normal, tudo é natural”, acrescenta. A missão das Cooperadoras “é trabalhar com muito afinco, com muito ardor missionário para reverter essa situação”.
Muitas vezes a recompensa pela trabalho chega quando são chamadas para fazer mediação familiar e “conseguimos evitar a separação do casal”, explica Arminda.
Da missão do Brasil fazem atualmente parte onze Cooperadoras da Família (4 de origem portuguesa e 7 de origem brasileira) que se dividem pelas Diocese de Diamantina, Guanhães e Minas Gerias.
Missão no século XXI
Quanto à missão que hoje é chamada a desempenhar, Arminda considera que a pode desempenhar em qualquer lugar mas hoje, ao contrario de há 41 anos, acredita que está mais consciente que Deus a chama a viver duas paixões: “a paixão por Deus e a paixão pela Família”. Ao longo do tempo foi-se apercebendo que Deus a chamava por um lado a integrar a Família do Instituto e por outro a família enquanto comunidade.
Perante a escassez de vocações, Arminda pede aos jovens para não terem medo do chamamento de Deus. “Deus é a nossa força, a nossa fortaleza, Deus está connosco em qualquer lugar, em qualquer tempo e em qualquer situação”, conclui Arminda.
Artigo da edição de agosto/setembro do Jornal da Família