COP26: «É tempo de agir», diz o Papa

Francisco pede que responsáveis internacionais ouçam «grito» da terra e dos pobres para mudar modelo de desenvolvimento.

O Papa desafiou a comunidade internacional a agir conjuntamente para travar os efeitos das alterações climáticas, num texto publicado no dia em que se iniciou a cimeira de Glasgow, Escócia.

“Agora é tempo de agir e agir juntos”, escreve Francisco, no prefácio do e-book “Laudato si’ Reader. Uma Aliança de Atenção à Nossa Casa Comum”, publicado pelo Vaticano por ocasião da COP26.

A obra reúne reflexões e relatórios sobre a receção da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’ que o Papa publicou em 2015, antes da Conferência de Paris.

“Estou feliz por ver que a encíclica teve um impacto positivo nos esforços para cuidar da nossa Casa comum na Igreja, nas nossas comunidades ecuménicas e inter-religiosas, nos círculos políticos e económicos, nas esferas educativas, culturais e não só”, refere o Papa.

O texto alerta para o “comportamento irresponsável” da humanidade, que ameaça o seu futuro no planeta, destacando o impacto da pandemia num mundo que já estava em crise.

“Uma crise ecológica, representada pelo ‘grito da terra’, e uma crise social, representada pelo ‘grito dos pobres’, tornaram-se letais para uma crise sanitária”, aponta Francisco, que convida todos a “aprender com os erros do passado”.

“O ‘Grito da Terra e o Grito dos Pobres’ que apresentei na ‘Laudato si’ como consequência emblemática da nossa incapacidade de cuidar da nossa Casa comum foi recentemente ampliado pela emergência da Covid-19, que a humanidade ainda está a tentar combater”.

A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) reune mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos, entre 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow, para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030. Francisco destaca a ação levada a cabo, nos últimos anos, por vários responsáveis religiosos, que assumiram “importantes declarações” conjuntas para sensibilizar os fiéis para a importância da proteção do meio ambiente, como “protetores da criação de Deus”.

O Papa pede uma “mudança de rumo”, alterando hábitos e construindo “futuros justos e equitativos”.

“É hora de desenvolver uma nova forma de solidariedade universal baseada na fraternidade, no amor, na compreensão recíproca: uma solidariedade que valoriza mais as pessoas do que o lucro, que procura novas formas de entender o desenvolvimento e o progresso”, precisa.

A mensagem elogia o papel das novas gerações na sensibilização da sociedade para a crise climática, sustentando que este é o momento de “sonhar em grande”.

 A COP26 decorre seis anos após a Conferência de Paris, na qual se estabeleceu um Acordo que visa limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

A delegação do Vaticano a Glasgow é liderada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, que fala num momento “bastante complexo e incerto”.

“É verdade que foi iniciado um processo de transição para um modelo de desenvolvimento livre de tecnologias e comportamentos que incidem nas emissões de gás de efeito estufa; a principal questão é quão rápido será esse processo de transição e se será capaz de respeitar os prazos ditados pela ciência”, assinala o colaborador do Papa, em entrevista ao ‘Vatican News’.

Segundo o responsável, a Santa Sé espera que a COP26 possa “realmente reafirmar a centralidade do multilateralismo e da ação, inclusive através de agentes não-estatais”.

“Fenómenos globais e transversais como a pandemia e as mudanças climáticas destacam cada vez mais a mudança de rumo solicitada pelo Papa Francisco, com base na consciência de que devemos trabalhar todos juntos para fortalecer a aliança entre o ser humano e o ambiente natural, com especial atenção às populações mais vulneráveis”, aponta o cardeal Parolin.

Fonte: Agência Ecclesia

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