Ciclo da vida familiar

Furtado Fernandes traça as várias etapas de um trajeto cheio de desafios e oportunidades de desenvolvimento pessoal e familiar.

Embora proliferem muitas caricaturas do amor no “mercado”, importa afirmar-se que, nos relacionamentos sérios, os membros do casal desejam o amor para toda vida.

Quem tem a ousadia de percorrer este caminho sabe que a vinculação se torna, gradualmente, mais forte, o amor não se desvanece apesar das marcas do tempo.

Vejamos, então, as várias etapas do trajeto, cada uma delas com desafios próprios que são, simultaneamente, oportunidades de desenvolvimento pessoal e familiar:

  • Formação do casal
    • Aprofundar o conhecimento recíproco, resistir ao imediatismo tão danoso para a consolidação de um relacionamento;
    • Negociar a proximidade, a autonomia e o poder, o que implica, necessariamente, ajustar hábitos e costumes;
    • Não converter o outro num ídolo. A adoção desta postura irrealista tem como consequência que eu me sinta tentado a derrubá-lo, do pedestal em que o coloquei, ao primeiro fracasso.
  • Nascimento do primeiro filho
    • Acolher o filho reforçando o compromisso conjugal. Ele representa, no plano simbólico, uma marca indelével da fecundidade do amor;
    • Exercer novos papéis – ser pai e ser mãe – dividindo, equitativamente, as responsabilidades inerentes à parentalidade;
    • Assumir as novas relações de parentesco, valorizando, designadamente, o papel dos avós, determinante na consolidação da identidade familiar.
  • Filhos em idade escolar
    • Desenvolver projetos com a participação dos filhos;
    • Dialogar com os filhos sobre os seus anseios e as suas perplexidades, assumindo por inteiro as responsabilidades de educadores. Neste particular, estar muito atento à toxicidade das redes sociais, quando são usadas obsessivamente;
    • Respeitar a autonomia progressiva dos filhos, sem ceder ao laxismo.
  • Saída de casa dos filhos
    • Aprofundar a intimidade, aproveitando uma maior disponibilidade que, em geral, caracteriza esta etapa da vida;
    • Preparar ativamente a reforma, planeando com criatividade novas formas de gerir o tempo, que contribuam para o desenvolvimento pessoal e comunitário;
    • Apoiar os pais, desde logo afetivamente, e, também, se for caso disso, economicamente. Honrar pai e mãe é um mandamento do Senhor, mas, também, um privilégio.
  • Envelhecer juntos
    • Integração de experiências, definindo objetivos para uma maior realização na fidelidade à Missão que enforma cada vida;
    • Envolver-se em atividades de voluntariado;
    • Partilhar o sofrimento – suprema prova de amor.

Em quaisquer circunstâncias, a família continua a ser um lugar privilegiado para responder a necessidades de compreensão, afeto, autodesenvolvimento, intimidade, atenção, ternura – numa palavra amor.

Para que a família possa desempenhar estas funções de valor inestimável, é indispensável conferir centralidade à qualidade do relacionamento conjugal.

Caso contrário, “que ninguém se admire, portanto, de ver crescer gerações de «crianças – reizinhos» que procurem comandar toda a vida social à sua volta” (Anatrella).

Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Furtado Fernandes escreve mensalmente no Jornal da Família

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