No momento em que escrevo estas linhas decorre o X Encontro Mundial das Famílias, a que já aqui aludi no mês anterior, destacando como esta celebração não deve ser olhada principalmente como um momento de chegada e de conclusão de todo o caminho realizado ao longo do Ano Família Amoris Laetitia, que também o é, mas essencialmente como um momento de partida, que permita colocar a família num lugar central das preocupações e ação da Igreja, testemunhando, de um modo profético, que o mesmo deve ser feito ao nível das sociedades e dos governos das nações.
A propósito desta centralidade, destaco algumas ideias que o papa Francisco partilhou no discurso realizado no Festival das Famílias no dia 22 de junho:
“Desejo fazer-vos sentir a minha proximidade justamente onde vos encontrais, na vossa condição concreta de vida. E este é precisamente o meu primeiro encorajamento: começai da vossa situação real e, a partir desta, tentai caminhar juntos; juntos como esposos, juntos na vossa família, juntos com as outras famílias, juntos com a Igreja. Penso na parábola do bom samaritano que encontra pela estrada um homem ferido: aproxima-se dele, toma-o ao seu cuidado e ajuda-o a retomar o caminho. Queria que a Igreja fosse precisamente isto para vós: um bom samaritano que se faz próximo, se aproxima de vós e vos ajuda a continuar o vosso caminho, vos ajuda a dar «um passo mais», nem que seja pequeno. E não esqueçais que a proximidade é o estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura. Este é o estilo de Deus.”
E a partir da escuta de um testemunho destacou, uma vez mais, a importância e necessidade do acolhimento próximo:
“Penso que é doloroso para todos aquilo que contastes: «Não conseguimos encontrar uma comunidade que, de braços abertos, nos apoiasse assim como somos». Isto é penoso; deve fazer-nos refletir. Temos de nos converter e caminhar como Igreja acolhedora, para que as nossas dioceses e paróquias se tornem cada vez mais «comunidades que, de braços abertos, apoiem a todos». Há tanta necessidade disso, nesta cultura da indiferença!”
Refletindo a partir daqui afirma que a vida familiar não é uma missão impossível, porque Deus oferece o presente do matrimónio e faz também esse caminho com cada um dos seus membros:
“Podemos dizer que, quando um homem e uma mulher se apaixonam, Deus oferece-lhes um presente: o matrimónio. Um dom maravilhoso, que contém em si a força do amor divino: forte, duradouro, fiel, capaz de se restabelecer depois de qualquer fracasso ou fragilidade. O matrimónio não é uma formalidade a ser cumprida. Não vos casais para ser católicos «com a etiqueta», para obedecer a uma regra ou porque a Igreja assim o diz ou então para fazer uma festa. Não! Casais-vos, porque quereis fundar o matrimónio no amor de Cristo, que é firme como uma rocha. No matrimónio, Cristo dá-Se a vós para terdes a força de vos dar um ao outro. Por isso, coragem! A vida familiar não é uma missão impossível. Com a graça do sacramento, Deus torna-a uma viagem maravilhosa que se há de fazer juntamente com Ele; nunca sozinhos. A família não é um ideal, belo mas na realidade inatingível. Deus garante a sua presença no matrimónio e na família, não só no dia do casamento, mas ao longo da vida inteira. Apoia-vos todos os dias no vosso caminho.”
Sem ignorar as dificuldades, que sempre fazem presença na vida de todas as famílias, e destacando a experiência do perdão, a dinâmica do acolhimento e a vontade de querer sempre continuar a alimentar o amor como atitudes necessárias para as enfrentar, o papa Francisco termina o seu discurso convidando as famílias a escutarem a interpelação de Deus, de modo a se deixarem transformar para poderem, assim, ser agentes da necessária transformação do mundo.
“Queridos amigos, cada uma das vossas famílias tem uma missão a cumprir no mundo, um testemunho a dar. […]. Por isso proponho-vos que ponhais a vós mesmos esta pergunta: Qual é a palavra que o Senhor quer dizer, com a nossa vida, às pessoas que encontramos? Qual «passo mais» pede hoje à nossa família? Melhor: à minha família, pois cada um se deve interrogar sobre isto. Colocai-vos à escuta. Deixai-vos transformar por Ele, para que também vós possais transformar o mundo e torná-lo «casa» para quem tem necessidade de ser acolhido, para quem precisa de encontrar Cristo e sentir-se amado.”
Precisamos mesmo desta transformação. A das famílias e a do mundo.
Juan Ambrosio
Artigo da edição de julho 2022 do Jornal da Família
Foto: Ricardo Perna/Família Cristã