Famílias de origem

Quando se forma um casal deixa-se pai e mãe. E como se processa a relação do casal recém-formado com as famílias de origem? Furtado Fernandes ajuda-nos a refletir sobre a temática.

“No centro de um mundo despedaçado pelas guerras e sacudido pelas tempestades, porventura a família não tem por missão ser um porto de abrigo e paz? Não sendo nem uma redoma artificialmente isolada do resto do mundo, nem casulo fechado sobre si mesmo, a família é um porto onde sabe bem prepararmo-nos para nos fazermos ao largo, e onde é sempre possível encontrar refúgio quando a tempestade deflagra com uma força excessiva” (Christine Ponsard in A Fé em Família).

Como é evidente, quando se fala em família, não nos devemos circunscrever apenas às famílias nucleares, mas, outrossim, cuidarmos com especial discernimento nas ligações entre estas e as respetivas famílias de origem.

Isto porque, como bem assinala Mariolina Ceriotti Migliarese in O Casal Imperfeito, “a relação do casal com as famílias de origem é desde sempre uma fonte potencial de situações problemáticas, porque a união do homem e da mulher para formar uma família nova comporta a passagem crucial de «deixar o pai e a mãe», que não é tanto e somente um afastamento físico da casa dos pais (que neste caso já se tinha dado), mas mais percorrer um percurso não óbvio de amadurecimento interior de todos os protagonistas”.

Trata-se, então, de mapear um processo de modo que os comportamentos se ajustem para benefício da coesão familiar. Neste sentido deixamos algumas sugestões:

  • Conseguimo-nos libertar da respetiva tutela parental?
    • Temos a coragem para assumir, com autonomia, a nossa vida de casal?
    • Sabemos distinguir as relações conjugais das relações filiais, evitamos a contaminação?
    • Não fazemos comparações identitárias entre o nosso cônjuge e os nossos pais?
  • Relacionamo-nos como casal com as famílias de origem?
    • Empenhamo-nos na construção de uma nova família alargada formada a partir das nossas famílias de origem?
    • Sabemos “dar espaço” para que as relações filiais do nosso cônjuge se desenvolvam com a especificidade que as caracteriza?
    • Não fazemos comparações identitárias entre os nossos pais e os pais do

nosso cônjuge?

  • Recusamos o emaranhamento, isto é, a invasão da nossa privacidade?
    • Tratamos os nossos conflitos conjugais diretamente e com assertividade, não fazemos “queixinhas”?
    • Não somos adeptos do recurso aos “segredinhos”?
    • Assumimos, por isso, que há questões que devem ficar só entre os membros do casal?
  • Cultivamos uma ligação afetiva saudável, fomentando o convívio e a partilha?
    • Compatibilizamos os vínculos da família nuclear com os da família alargada?
    • Recorremos a rituais de celebração para potenciar o convívio familiar?
    • Consideramos o convívio entre gerações como meio privilegiado para a transmissão de valores?
  • Quando há conflitos não assumimos o papel de “advogado de defesa” da respetiva família?
    • Procuramos, sempre que possível, desempenhar um papel de mediação, recusamos a posição de “acusadores” e/ou “defensores”?
    • Contribuímos, nessa medida, para que os conflitos sejam geridos numa estratégia de “ganhar-ganhar”?
    • Empenhamo-nos para que as relações de afinidade possam, pelo menos, ser cordiais?

Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de outubro de 2022 do Jornal da Família

Partilhar:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
Relacionado

Outras Notícias

E depois da pandemia?

“A sociedade está cansada e não tem tempo”, afirma Cristiana Moreira numa reflexão sobre a empatia, ou a falta dela, num tempo em que as vidas voltaram a ser “engolidas pela rotina”.

Ler Mais >>

«Alegres na esperança» (Rm 12, 12)

A caminho do Jubileu de 2025, a esperança torna-se o fio condutor da mensagem do Papa Francisco para a XXXVIII Jornada Mundial da Juventude, que se celebra a 26 de novembro, Solenidade de Cristo-Rei.

Ler Mais >>

Haverá anos letivos tranquilos?

Um olhar pelo passado para constatar que a instabilidade do presente não é algo novo. E em matéria de educação, mais do que lamentar a “instabilidade ” do arranque de mais um ano letivo, há que transmitir “serenidade e confiança às crianças e aos jovens”. O artigo de Jorge Cotovio na edição de novembro do Jornal da Família.

Ler Mais >>

Alarme para defender a vida na Terra

Estamos a chegar ao “ponto de rutura” escreve o Papa Francisco na Exortação ‘Laudate Deum’. Octávio Morgadinho traça no artigo deste mês as linhas gerais do novo documento papal que deixa o alerta: “um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior inimigo de si mesmo”.

Ler Mais >>

Se queres a paz, prepara-te para a paz

Perante um mundo que nos é apresentado com “horrorosas imagens da guerra”, Juan Ambrosio acredita que “o mundo e a existência” continuam a ser “sustentados pelo amor e pela bondade”. E a chave para a paz reside na educação.

Ler Mais >>

Eslovénia, o dom da natureza

O Lago de Bled é um lugar rodeado de silêncio e de natureza onde se encontra o Santuário de Nossa Senhora da Assunção, ponto de encontro das famílias que ali peregrinam ao fim de semana. Fica na Eslovénia e encantou Cristiano Cirillo que fez dele o mote para a crónica da rubrica “A beleza da espiritualidade em viagem”.

Ler Mais >>