Junho é o mês dedicado aos santos populares, Santo António, São João e São Pedro. Mas apenas um deles é tão venerado em Portugal como em Itália: Santo António. Nascido em Lisboa com o nome de Fernando Martins de Bulhões, em 1195, viveu cerca de vinte e cinco anos em Portugal, entre Lisboa e Coimbra, onde entrou para o convento de Santa Cruz e mudou o seu nome para António. Em 1219, os corpos de cinco irmãos franciscanos, decapitados durante a expedição missionária a Marrocos, foram trazidos para Coimbra, ficou impressionado e iniciou a sua fase de mudança. Primeiro franciscano, depois missionário, António foi um viajante incansável. Visitou muitas terras desoladas e desesperadas pela fome da época e, como bom pregador, conversou com as pessoas, partilhou a sua existência humilde e atormentada e empenhou-se em difundir a conversão à religião cristã, promovendo sempre os valores da paz. Não faltaram milagres nas suas peregrinações, como o sermão em Itália aos fiéis de Rimini, feito à beira-mar, onde até os peixes o foram ouvir. O jumento que jejuou durante três dias e se ajoelhou diante do ostensório, e Tomasino o menino ressuscitado em Pádua, lugar onde se retirou definitivamente. Assistido pelos franciscanos, Santo António morreu a 13 de junho de 1231, com trinta e seis anos, perto de Arcella, a norte de Pádua. A menos de um ano, depois da sua morte, o Papa Gregório IX nomeou-o Santo. É o santo “casamenteiro” assim como o das “coisas perdidas”, mas para os italianos é conhecido como “o Santo” e a sua bela Basílica elevada ao título de Basílica Pontifícia representa a sua forte devoção. O arquiteto é desconhecido, sendo provavelmente um franciscano com uma vasta cultura figurativa.
O templo data do ano de 1200 e é um verdadeiro tesouro de arte. O exterior apresenta elementos românicos, góticos e bizantinos, lembrando a arquitetura da vizinha Basílica de São Marcos, em Veneza. O interior tem a forma de uma cruz latina, dividida em três naves com nove capelas laterais. A primeira é dedicada ao túmulo do Santo e ao longo das paredes há nove relevos de mármore que representam cenas da vida e dos milagres de Santo António. No centro, encontra-se o altar-túmulo realizado por Tiziano Aspetti em 1594, cuja devoção é grande. É possível percorrer o túmulo e tocá-lo com fé, a emoção que senti quando o toquei foi muito forte. As outras capelas são dedicadas à Virgem Moura, que corresponde à antiga ‘igrejinha’ de Santa Maria Mater Domini, anexa ao convento onde viveu Santo António, e este é o núcleo a partir do qual toda a basílica se desenvolveu ao longo dos séculos. Esta capela está repleta de frescos de Giotto, e os recentes trabalhos de restauro devolveram o esplendor original a outras pinturas interessantes. Seguem-se a Capela de São Lucas e a Capela do Tesouro ou Capela das Relíquias. Esta última, de sumptuoso estilo barroco, data do século XVII e foi concebida pelo arquiteto e escultor Filippo Parodi. O precioso relicário central contém um osso do pé, um fragmento de pele e de cabelo do Santo e, num admirável relicário do ourives Giuliano da Firenze (1436), conserva-se a língua incorrupta de Santo António e outras relíquias. Por último, o altar-mor do presbitério é separado da nave central por uma elegante balaustrada. Este ambiente solene é dominado pelas obras-primas de Donatello, datadas de 1448, que, no seu conjunto, constituem a obra de arte mais famosa da Basílica. Não é apenas a beleza artística que impressiona, mas também estas paredes que exalam oração e devoção. Um unicum onde a arte e a espiritualidade se unem num par inseparável.
Aos leitores do nosso Jornal, estejam atentos à próxima etapa, que será a caminho da….
Texto e fotos: Cristiano Cirillo
circri@libero.it
Artigo da edição de junho de 2023 do Jornal da Família