O digital e o real no mundo da Educação

Passamos cada vez mais tempo “ligados” ao mundo digital. O tema merece reflexão, sobretudo quando se trata de crianças. Para Goretti Valente “uma dependência em demasia do digital pode não ser a melhor opção para crescer e se atualizar”.

 O mundo digital está cada vez mais presente na vida de todos nós. As escolas acompanham a evolução e proliferação das técnicas digitais e aplicam-nas nas suas atividades escolares. Este ano tivemos conhecimento da utilização do digital na realização de algumas provas de aferição para alguns anos de escolaridade. Poderá ser uma ótima ideia, mas também poderá merecer alguns momentos de reflexão por parte de todos nós, os que integram a comunidade educativa em particular, e os que fazem parte da sociedade em geral. Cada um é livre de ter a sua própria opinião sobre o mundo digital, mas não podemos nem devemos esquecer que o mundo real também é importante nas aprendizagens e na formação das novas gerações.

Uma dependência em demasia do digital pode não ser a melhor opção para crescer e se atualizar. O digital complementa e até pode solucionar muitas situações do quotidiano, mas não pode substituir aquilo que só o ser humano consegue revelar, o afeto, o sentimento, a emoção, a relação humana. Alguma atenção ao uso e elogio frequente de tudo o que é digital, em detrimento do humano, não será nunca demais, pois poderá evitar a desertificação de sentimentos na sociedade em que vivemos.

 Ao longo dos últimos anos, não podemos de modo algum ignorar o quanto o mundo tecnológico tem evoluído, e, em alguns casos, melhorado o nosso “modus vivendi”, mas também temos tido a oportunidade de verificar o quanto os hábitos do mundo real tem vindo a ser alterados e até mesmo esquecido. Há menos diálogo, mais stress, menos tempo para as pessoas, o que poderá influenciar todo um tipo de socialização que é necessária para viver e crescer saudavelmente.

Uma dependência exagerada das novas tecnologias, sobretudo em idades escolares, pode não contribuir para um desenvolvimento cognitivo e intelectual eficaz. Realizar aprendizagens de forma autónoma, através do computador ou telemóvel com ligação à Internet pode ser interessante, mas também pode levar a situações menos confortáveis para as famílias.

Estudos realizados por especialistas na área da psicologia, sociologia, educação, entre outros, confirmam que a exposição exagerada a um ecrã de telemóvel, ou mesmo de computador, pode trazer inconveniências, não só a nível físico, como também a nível psicológico, se não houver alguma orientação positiva e informada. Tudo deverá ser realizado com conta, peso e medida. Não é por mero acaso que foram criados meios para que os pais ou encarregados de educação consigam bloquear sites, jogos, ou outras aplicações menos adequadas, porque efetivamente podem interferir com o desenvolvimento intelectual e pessoal das crianças e dos jovens. À medida que vão crescendo, esta situação tende, naturalmente, a desaparecer, por motivos diferenciados. De qualquer forma estar atento ao evoluir de todas estas vivências é muito importante enquanto também responsáveis pela construção de um mundo melhor.

 Este tema é bem importante, atual e real, e é por isso que é bom estarmos todos informados do que é aceitável ou menos aceitável, relativamente à exposição exagerada aos ecrãs, de acordo com técnicos especializados nesta área. Então, até  aos 2 anos não é recomendado qualquer tempo no ecrã (telemóvel, tablets, consolas etc), salvo situações pontuais de ligação aos familiares que estão longe. Dos 2 aos 5 anos, o tempo de exposição não deverá ser superior a 1 hora. Dos 5 aos 17 anos, o tempo de exposição não deverá exceder as 2 horas, sem contar com o tempo de trabalhos na escola. Temos a noção de que os jovens e crianças de hoje utilizam os ecrãs muito mais tempo do que o recomendado. De qualquer forma, tendo como base esta pequena informação, estaremos mais aptos a promover hábitos mais saudáveis de aprendizagens e entretimento que contemplem mais a vida real, onde se premeia a socialização, as relações humanas, os sentimentos e as emoções. Não se pretende de forma alguma minimizar ou mesmo rejeitar o papel das novas tecnologias, do virtual, no mundo de hoje, em especial na comunidade educativa, apenas se pretende lembrar que, como humanos que somos, vivemos num mundo bem real.

Bom estudo.

Goretti Valente
Artigo da edição de junho do Jornal da Família

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