Nos dias do Sínodo ouvimos com frequência sobre a importância da sinodalidade, ou seja, do caminhar juntos como iguais na e com a Igreja, e da importância de praticar a escuta, ao dar voz a quem não tem e dar atenção ao que essa voz diz.
Muitas vezes, encontramo-nos no meio de aflições, dificuldades e preocupações, e pode até mesmo parecer que esses sentimentos são ignorados por todos ao nosso redor. Efetivamente, nota-se um crescente “resfriamento” das relações sociais, já que as pessoas estão a fechar-se cada vez mais, pelo simples facto de terem medo de falar sobre os seus medos, ou pelo medo de serem incompreendidas, julgadas ou ignoradas.
Nesse sentido, percorrer um caminho de vida sinodal, até mesmo fora da Igreja, pode ser uma solução para muitos dos nossos problemas quotidianos. Quando possível, devemos tentar escutar melhor aqueles que estão à nossa volta, pois podem estar silenciosamente a pedir ajuda, e necessitam de ser escutados. O simples facto de escutar pode abrir novos horizontes ao nosso modo de ver as pessoas, as ideias e a vida, já que cada indivíduo tem um mundo inteiro dentro de si. Ao escutar os outros, podemos refletir também sobre nós mesmos e assim compreender que podemos partilhar problemas e preocupações que podem ser resolvidos ao caminhar juntos.
Mas, certamente, o caminho sinodal não significa somente unir-se na caminhada durante os momentos difíceis. Esse processo significa dialogar entre iguais também, propondo ideias e opiniões, identificando o que pode ser melhorado, e concordando sobre o que já é suficientemente bom como é. É preciso dar impulso à empatia, à conversa, ao contacto real ao invés do virtual, para evitar que nos tornemos máquinas. Ao refletir sobre essa questão, penso muito no papel das artes, que são um dom único partilhado por toda a humanidade. Todas as culturas do mundo têm um ou vários modos de expressar-se através da música, da pintura, da literatura, das danças, e assim por diante. Infelizmente, às vezes tenho a impressão de que muitas pessoas já não sabem mais como apreciar esse dom, ou já não o conseguem mais apreciar.
Ao concluir a minha breve reflexão deste mês, reconfirmo a importância do conhecer-se reciprocamente, pois só assim conseguiremos escutar e acima de tudo compreendermo-nos uns aos outros, se possível utilizando “instrumentos” tão belos como a arte, que só tem a enriquecer as nossas relações humanas.
Murillo Missaci
missacimb@gmail.com
Artigo da edição de novembro de 2023 do Jornal da Família