- A Inteligência Espiritual e o sentido da vida
No artigo sobre Inteligência Emocional definimo-la como a capacidade de identificar os nossos sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as nossas emoções quer a nível intrapessoal quer interpessoal (Goleman).
Obviamente que cultivar este tipo de inteligência é extremamente benéfico para o nosso bem-estar, na medida em que contribui para a melhoria da nossa autoestima e para o estabelecimento de relações gratificantes com os outros.
Compreende-se, contudo, que ela não responde às questões existenciais, designadamente aquela que sobreleva todas as outras: qual é o sentido da vida?
Segundo Zohar e Marshall – os autores que, pela primeira vez, em 2000, introduziram o conceito de Inteligência Espiritual – as pessoas são seres essencialmente espirituais porque têm necessidade de fazer perguntas “fundamentais” ou “essenciais”, nelas se incluindo, naturalmente, descortinar qual o sentido da vida.
Nessa medida a Inteligência Espiritual pretende capacitar-nos para lidar com a fugacidade da vida e as vicissitudes do tempo.
Situações como uma enfermidade terminal, o fracasso, os sofrimentos, entre outras tribulações, colocam questões específicas. A vulnerabilidade física e emocional catalisa, de forma especial, a emergência de necessidades espirituais.
A vontade de prazer (Freud) e a vontade de poder (Adler) são imanentes, a vontade de sentido é auto transcendente. Sem a vontade de sentido caímos no vazio existencial.
Augusto Cury, no seu livro O Mestre do Amor, referindo-se a Jesus Cristo, afirma:
“O Mestre do Amor queria ensinar aos homens a principal arte da inteligência e a mais difícil de ser aprendida: a arte de amar. Para aprendê-la era necessário cultivar a contemplação do belo, a tolerância, a compaixão, a capacidade de perdoar e a paciência. Amar é uma palavra fácil de pronunciar, mas difícil de ser praticada. Muitos nem mesmo conseguem amar-se a si mesmos, quanto mais as pessoas de fora. Mas, sem amor, que sentido tem a vida?”.
A vida com sentido que todos almejamos, pressupõe encontrarmos um propósito que nos comprometa a pormos ao serviço dos outros os talentos que recebemos de Deus.
Recebemos de graça, somos chamados a dar de graça.
Neste intento deveremos também ajudar os outros a encontrarem sentido para as suas vidas. Viktor Frankl, no seu livro O Homem em Busca de um Sentido, afirma que o sentido da sua vida é ajudar os outros a encontrar o sentido das suas vidas.
2. Características da Inteligência Espiritual
- Definição da minha missão, factor nuclear da minha identidade pessoal. O compromisso com a missão é indispensável para que eu possa prosseguir, com coerência, um projeto de vida;
- Atração pelos valores que me libertem do egoísmo e dêem sentido à minha vida;
- Autotranscendência: o que significa despojar-me do banal, do contingente e focalizar-me no essencial;
- Prática da compaixão, o que representa um estádio superior à empatia;
- Resiliência perante a adversidade, tirando, quando possível, partido dela;
- Ser feliz, o que significa ser fiel à minha missão – esta é a verdadeira sabedoria;
- Viver com entusiasmo – esta palavra tem origem no grego, o que significa “ter um deus dentro de si”. Entusiasmo é, pois, mais que otimismo;
- Abertura ao sobrenatural, indispensável para que eu encontre respostas para as questões existenciais.
Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de dezembro de 2023 do Jornal da Família