Os nossos imigrantes

Um olhar humano e fraterno para com os imigrantes na economia e na sociedade portuguesa. Furtado Fernandes evoca os princípios defendidos pelo Papa Francisco, na Encíclica 'Fratelli Tutti', para defender um acolhimento fraterno e digno aos imigrantes.
  1. Alguns dados

Em 18 de dezembro assinalou-se o Dia Internacional do Migrante.

Está fora do âmbito deste artigo, atentas as suas características, refletir sobre as migrações enquanto fenómeno global. Pretendemos, tão só, apresentar algumas notas sobre a imigração no nosso país.

Com este objetivo começamos por evidenciar alguns dados reportados a 2022:

  • Os imigrantes representam 7,5% no total da população, sendo responsáveis por 17% dos nascimentos. Como se compreende esta é uma relevante contribuição para mitigar o nosso “inverno demográfico”;
  • Acresce que são responsáveis por 1600 milhões de lucro à Segurança Social, o que não é despiciendo quando tanto se fala sobre a necessidade de assegurar a sua sustentabilidade. Este indicador comprova que os imigrantes não são, bem ao contrário, um ónus para o nosso sistema de apoio social. Naturalmente, quando precisam de assistência não podem ser discriminados, o que se traduziria numa clamorosa injustiça;
  • Sem a sua participação a economia portuguesa sofreria um forte revés. Em especial, setores como a agricultura, a hotelaria, a restauração, a construção civil e o serviço doméstico “entrariam em colapso” (Relatório anual do Observatório das Migrações);
  • Em abono da verdade os imigrantes fazem, muitas vezes, trabalhos que os nacionais não querem. São, em geral, empregos precários, mal pagos e por vezes mais arriscados, como é o caso da construção civil.

2. Contra xenofobia o acolhimento fraterno

Os dados apresentados demonstram, à saciedade, que a imigração é uma mais-valia para a economia e sociedade portuguesas. As posições em contrário, fruto de um nacionalismo tacanho, são altamente demagógicas e, como tal, devem ser denunciadas.

“ (…). Todavia, ainda há aqueles que parecem sentir-se encorajados ou pelo menos autorizados pela sua fé a defender várias formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos àqueles que são diferentes. A fé, com o humanismo que inspira, deve manter vivo um sentido crítico perante estas tendências e ajudar a reagir rapidamente quando começam a insinuar-se. Para isso, é importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos” (Papa Francisco, Fratelli Tutti).

Nesta linha devemos combater as redes de tráfego humano que submetem os migrantes a uma verdadeira escravatura. Cite-se o escândalo dos casos ocorridos no Alentejo no “recrutamento” de trabalhadores estrangeiros para a agricultura.

3. Medidas a desenvolver

  • “Plano mais célere para o reconhecimento de habilitações dos mais qualificados;
  • Dar formação aos trabalhadores sazonais durante os períodos em que não têm tanto trabalho;
  • Acelerar cursos de língua ou cursos ligados ao turismo;
  • Maior agilidade em relação aos processos de regularização”. (Pedro Góis, Jornal Público)

Os trabalhadores imigrantes, designadamente os menos qualificados, têm um poder contratual diminuído face às respetivas entidades patronais. Perante tais situações requer-se uma especial intervenção da Autoridade para as Condições de Trabalho de forma a prevenir tratamentos discriminatórios.

Furtado Fernandes
 j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de fevereiro de 2024 do Jornal da Família

Partilhar:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
Relacionado

Outras Notícias

Basílica de São Paulo fora dos Muros

É das mais importantes e imponentes basílicas papais e faz memória daquele que terá sido o primeiro grande missionário da Igreja. Cristiano Cirillo faz-nos uma visita guiada à Basílica de São Paulo fora dos Muros.

Ler Mais >>

É um dia belo o Dia-do-Pai com vistas para Deus

“Salta à vista que celebrar o pai é reunir a família, pais e filhos, avôs e netos, e avivar o mistério da vida e do amor, da paz, do pão, do vinho e da alegria, pautas novas que tanta falta fazem ao nosso mundo indiferente, violento e salitrado, em que muitas vezes não se vê nenhum céu azul ou estrelado” (Comissão Episcopal do Laicado e Família)

Ler Mais >>

25 anos de missão em Cabinda

O bispo da diocese de Cabinda agradece missão das Cooperadoras da Família ao longo de 25 anos nesta diocese angolana e chama “grande obra” ao Complexo Escolar Brazita, no Bairro do Mbuco, que acolhe mais de 900 alunos.

Ler Mais >>

Refletir a “Família” em família

Os núcleos MLC (Movimento por um Lar Cristão) de Portalegre e Lisboa levaram a cabo dois retiros para famílias. O objetivo foi refletir a “Família” em família com a ajuda de dois orientadores com vasta experiência académica e teológica na área da pastoral familiar.

Ler Mais >>