Ah, tempos estes em que, mesmo sem desejarmos, nos entram pelos olhos e ouvidos lampejos e ruídos de um mundo anónimo que nos deseja influenciar, guiar, ajudar, ou inquietar, mobilizar para onde quer que seja, sem que o tenhamos pedido!
A intrusão da informação tem o impacto inverso da presença aceitante na proximidade relacional, ou do moroso caminho de busca de sentido profundo para a vida em todas as suas dimensões e aprendizagens.
Mas talvez por instantes essas mensagens que nos entram pela vida mental adentro sirvam de estímulo para recuarmos sobre os nossos vazios, inseguranças, culpabilidades, solidões e, em troca de um eco de identificação com os nossos automatismos, ficarmos mais propensos a aderir a ideias e produtos apresentados: “as dez regras para se ser boa pessoa”, “o que uma boa mãe deve fazer”, “como ter sucesso no trabalho”, “a melhor dieta do ano”…. E nem nos sentimos insultados com essa postura paternalista que nos remete para o lugar de incapazes de fazer a nossa vida sem o apoio dessa nova moral psicológica ou social que nos é apresentada.
Somos entupidos de saberes antes de ter nascido a curiosidade, de sugestões de como ser pessoa antes de sentirmos a angústia existencial, de treinos antes de termos ousado experimentar e falhar, de soluções antes de sabermos que havia um problema para nos fazer crescer… Antes de abrir a boca já lá está a colher de papa, sem o intervalo de reconhecimento eu-outro, dar-receber, sem a coragem de não saber e ainda assim confiar!
E tanta informação satura, cansa, acumula-se morta porque não é atenção presente, compreensão partilhada, descoberta sempre nova de sintonia do que somos com a Vida!
Quase ousava dizer que muitos desses presentes verbais ou imagéticos são apenas projeções dos desejos de outros de serem acolhidos, escutados, de terem o poder de influenciar alguém, de serem aplaudidos e, mesmo se com boas intenções, desajeitadas tentativas de melhorar a vida dos outros.
Onde está o silêncio? Onde se demora o afeto? Onde se partilha o desconhecido desta aventura que é viver? Onde se constrói a compreensão? Onde se derramam as lágrimas de ternura ou de dor ou de ambas ao mesmo tempo?
Pôr os olhos no Alto e não ver nada, mas sentir-se verdadeiramente visto! Calar-se na noite e ser verdadeiramente escutado! Ah, que maravilha de Vida que se encontra no Silêncio!
Ana Medina
Psicóloga e Professora
Artigo da edição de fevereiro de 2024 do Jornal da Família