- Relevância política
Pretendemos, com este artigo, enfatizar a importância da atividade política. Sabendo nós que votar é o primeiro direito/dever da cidadania; não se podem, por isso, aceitar os níveis de abstenção que desqualificam a nossa vida coletiva.
Quando se lançam anátemas sobre a generalidade dos políticos está-se a contribuir para a fragilização da participação cívica e, por via disso, para a abstenção.
Obviamente que há desmandos, mas, também, não podem ser menosprezados aqueles que, com reta intenção, se dedicam à causa pública.
“Hoje olha-se para a política de uma forma que não lhe faz justiça. Não digo que não existam motivos para isso. Porém, não se pode esquecer que a política exige dádiva, solidão e sacrifício. E quem exercita essa nobilíssima causa merece o reconhecimento da sociedade” (D. José Tolentino de Mendonça, Jornal Expresso).
2 . Responsabilidade dos partidos políticos
“Vivemos hoje, culturalmente, a atrocidade da bipolarização, que impõe a obrigatoriedade da provocação, do confronto inconciliável, que apenas gera divisão e é incapaz de fomentar uma cultura de cooperação e inclusão, de que tanto necessita o nosso País, particularmente num momento tão decisivo como o que estamos a viver” (D. Rui Valério, Mensagem de Natal).
Uma campanha eleitoral não pode ser, por conseguinte, um tempo de “lavagem de roupa suja”, ao invés requer-se esclarecimento e clarificação.
Neste sentido exige-se aos partidos políticos que, nos seus programas eleitorais, prometam o que possam cumprir.
É impossível dar tudo a todos. Dizia-se, a este propósito, na I República, que os políticos que faziam promessas demagógicas, ofereciam “bacalhau a pataco”.
Não é viável “ter sol na eira e chuva no nabal”, governar implica fazer opções que devem ser apresentadas antes do ato eleitoral.
Os diagnósticos estão feitos. Como diz D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, na sua Mensagem de Ano Novo, “os indicadores são especialmente preocupantes nos setores da saúde, da educação, da habitação e do custo de vida”.
Importa que o eleitorado seja, por isso, informado, com o detalhe possível, sobre as diferentes propostas para enfrentar estes problemas, sem pôr em causa a sustentabilidade das finanças públicas, o que implica controlar a dívida e o déficit.
Se assim não for sobem os juros, aumentam os encargos com o serviço da dívida, o que significa menos recursos para a promoção do desenvolvimento económico e para o financiamento das políticas sociais.
O bom governo não é compatível com tiradas demagógicas e com simplificações enganadoras.
Temos, por isso, de estar precavidos para não nos deixarmos ludibriar. Como bem alerta Alexis Tocqueville, “uma ideia falsa, mas clara e precisa, terá mais poder no mundo que uma ideia verdadeira e complexa”.
3. Responsabilidade dos eleitores
Como dissemos anteriormente os partidos políticos têm o dever de esclarecer; no que respeita aos eleitores – esta é uma responsabilidade simétrica – têm a obrigação de diligenciarem para serem corretamente esclarecidos.
As redes sociais, muitas vezes manipuladas por algoritmos falaciosos, não são, por regra, o meio mais idóneo.
Votar em consciência implica recorrer a fontes plurais e, com base nisso, ser criterioso na avaliação das opções em presença.
“O nosso grande desafio é transformar a informação em conhecimento, antecipar os riscos, gerir a ignorância, atuar com critérios de sustentabilidade e respeito pelo futuro” (Daniel Innerarity, Uma Teoria da Democracia Complexa).
Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de março de 2024 do Jornal da Família