Quem quero ser? Quem sou chamado a ser? As perguntas deram o mote para o II Fórum Família que abordou a questão da construção da pessoa e do ser humano. No painel da manhã, um teólogo e uma psicóloga abordaram a questão da identidade.
Para o teólogo Juan Ambrosio “construímo-nos na relação”. Uma construção que dividiu em quatro grandes áreas.
Num primeiro momento Juan Ambrosio defendeu que “somos verdadeiramente humanos porque somos acolhidos e reconhecidos numa comunidade que nos acolhe e reconhece enquanto tal”. O teólogo da Universidade Católica Portuguesa (UCP) defendeu que embora todos nasçamos humanos biologicamente, o processo de humanização é algo mais complexo e precisa de outras dimensões para se desenvolver. “Essas outras dimensões precisam destas tais transmissões, destes acolhimentos, destes reconhecimentos. Somos humanos em relação e quanto mais em relação, mais humanos somos”, defendeu.
A segunda grande área diz respeito à “palavras”. A vida humana para que seja verdadeiramente humana, “não basta ser uma vida sentida, tem de ser uma vida que tenha sentido e o processo da procura de sentido é sempre um processo da palavra, ou seja, tem de haver uma palavra que dá sentido, que dá ordem, que vai definindo o caminho””, explicou Juan Ambrosio. Uma palavra que se aprende no exercício da fala. “Falamos porque primeiro ouvimos, porque antes alguém falou connosco e mais uma vez temos aqui a dimensão do outro”, refere Juan Ambrosio.
A terceira área é a “questão simbólica”. “As dimensões mais nucleares, mais densas da humanidade dizem-se a partir do símbolo, ou seja, elementos que nos remetem para outras dimensões, para outra densidade da existência”, defendeu.
A quarta área passa pelo “relacional” com a descoberta de quem eu sou, do meu próprio nome. “Os outros é que me vão ajudando a ter a consciência de quem eu sou”, afirmou o docente da UCP, concluindo que “esta apaixonante aventura de ser gente, de sermos pessoas, não pode ser percorrida sozinha, tem que ser percorrida de braço dado com o outro(s)”.

“A identidade tem uma dimensão relacional e uma dimensão singular”
Numa conferência sobre a construção da identidade, a psicóloga Ana Sofia Medina defendeu que “a identidade tem uma dimensão relacional, quer na sua origem, quer na sua expressão, e uma dimensão singular, em que cada pessoa responde à vida por si, de uma maneira única”. Por outro lado defendeu também que “a identidade deriva do ser, portanto, tem um aspeto ontológico profundo e não se resume a um conjunto de atributos ou experiências sociais, ou uma construção de personalidade”.
Ana Sofia Medina tentou traçar um percurso desde a construção da identidade primária até ao final do ciclo de vida. Socorrendo-se da teoria do psiquiatra e psicanalista Coimbra de Matos referiu três tipos de identidade: uma identidade em espelho, outra por identificação ao modelo e uma baseada nas experiências individuais de cada pessoa.
Por fim, Ana Sofia Medina abordou o estado pós-moderno da construção identitária e alguns fatores de sofrimento ligados a uma “não resposta identitária” que “podem dificultar, atrapalhar, nos dias de hoje, uma resposta de ser”.

“Parece-me absolutamente impossível um cristão completo não viver a cidadania”
Em resposta à questão “Quem sou chamado a ser?”, da parte da tarde, o Pe. Nuno Folgado foi convidado a refletir sobre o compromisso eclesial e o compromisso de cidadania. O sacerdote da diocese de Portalegre-Castelo Branco falou do “desafio de unidade de vida” de forma a que “sejamos tudo em tudo o que fazemos”.
“Parece-me absolutamente impossível um cristão completo não viver a cidadania”, referiu. “É importante que em todas as circunstâncias nos perguntemos o que é que Deus espera de nós, quer seja naquilo que fazemos dentro da Igreja, quer seja naquilo que fazemos na sociedade, que em tudo tenhamos em vista o bem dos outros e o amar como Jesus Cristo nos amou”, afirmou.
O Pe. Nuno Folgado pegou na I Carta a Timóteo, onde São Paulo pede aos cristão para rezarem pelos governantes e pelos reis, para exemplificar que rezar por aqueles que nos governam é rezar pelo bem de todos. “Desde o princípio que os cristãos têm noção da importância de se envolverem no bem de todos e isso faz-se pela cidadania”, concluiu.

A esperança cristã na vida de cada um
Também um grupo de jovens foi convidado a responder a esta questão do “Quem sou chamado a ser? num painel intitulado “Peregrinos da Esperança”. Tendo no horizonte o tema do Jubileu da Igreja em 2025, os jovens foram convidados a testemunharem a forma como vivem a esperança cristã nas suas vidas e na vida dos que os rodeiam.
Ana sofia Marques, estudante, Angélica Galvão, Cooperadora da Família, e o casal Tiago e Ana Isabel Correia deram testemunho de uma fé transformadora que alimenta e sustenta a esperança numa vida repleta de desafios.
O II Fórum Família foi uma organização do Jornal da Família, em parceria com o Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF). Decorreu no passado dia 13 de abril, em Fátima, e contou com mais de 200 participantes, muitos deles casais jovens e com filhos que tiveram também um dia repleto de atividades ao cuidado das Cooperadoras da Família.
O Fórum Família teve a sua primeira edição em outubro de 2023 sobre o tema “Família, Fonte de Humanidade”.
Iniciativas que estão inseridas na caminhada trienal rumo à celebração do centenário da ordenação sacerdotal do Pe. Alves Brás (Fundador da Família Blasiana), a celebrar a 19 de julho de 2025.
IM
Artigo da edição de maio de 2024 do Jornal da Família