No contexto do Mistério Pascal, Jesus envia-nos o Espírito – “não vos deixarei órfãos” – para nos dar um suplemento de energia que renove as nossas mentalidades e os nossos comportamentos.
O Espírito sopra onde quer, peçamos ao Senhor que aumente a nossa Fé para continuarmos a caminhar.
É assim, especialmente em tempos como aqueles que vivemos hoje, em que o mundo está em guerra – o Papa Francisco fala de uma terceira guerra mundial em fragmentos.
“Toma em tuas mãos, Senhor,
A nossa terra ardida.
Beija-a.
Sopra nela outra vez o teu alento,
A tua aragem,
E veremos nela outra vez impressa a tua imagem.
Tu sabes bem, Senhor, que somos frágeis.
Mas contigo por perto,
Seremos fortes e ágeis,
Capazes de abrir estradas no deserto,
A céu aberto”.
D. António Couto – Bispo de Lamego
No meio das “águas agitadas” para prosseguirmos, como nos fala D. António Couto, rezemos ao Senhor, porque sabemos:
“Na fé, dom de Deus e virtude sobrenatural por Ele infundida, reconhecemos que um grande Amor nos foi oferecido, que uma Palavra estupenda nos foi dirigida: acolhendo esta Palavra que é Jesus Cristo – Palavra Encarnada – o Espírito Santo transforma-nos, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas da esperança para o percorrermos com alegria”. (…).
“É aqui que se situa a ação própria do Espírito Santo: o cristão pode ter os olhos de Jesus, os Seus sentimentos, a Sua predisposição filial, porque é feito participante do Seu Amor que é o Espírito; é neste Amor que se recebe, de algum modo, a visão própria de Jesus. Fora desta conformação no Amor, fora da presença do Espírito que o infunde nos nossos corações (cf. RM 5,5), é impossível confessar Jesus como Senhor” (cf. 1 COR 12,3) (Papa Francisco, A Luz da Fé).
É-nos dito, no Evangelho do Domingo de Pentecostes, que os discípulos ficaram cheios de alegria (o medo foi dissipado) ao verem o Senhor que “soprando” sobre eles lhes disse: “Recebei o Espírito Santo”.
Como refere o biblista italiano Fernando Armellini, in Banquete da Palavra, os discípulos tiveram, ao verem Jesus, uma reação surpreendente, deveriam entristecer-se porque Ele mostrou-lhes os sinais da Sua paixão e morte.
A alegria manifestada resulta “não por encontrarem o Jesus que acompanharam ao logo das estradas da Palestina, mas porque veem o Senhor, dão-se conta de que o Ressuscitado que se lhes revela é o mesmo Jesus, Aquele que deu a vida.”
A isto podemos acrescentar que essa alegria foi, também, resultado do Espírito que Cristo derramou sobre eles.
Estamos a chegar ao fim do Tempo Pascal, compreendemos bem, como diz o Padre Carreira das Neves, que “não pode haver Igreja sem Espírito Santo e Espírito Santo sem mistério Pascal”.
Jesus ressuscitado é o Senhor da Vida, a Ele dirigimos a nossa oração para que a Paz – esse inefável dom – possa reinar neste mundo tão dilacerado pelos horrores da guerra que tantas vítimas tem causado.
A vida é o supremo bem, nada pode justificar a cegueira criminosa de certos políticos que, na avidez do seu poder despótico, semeiam a morte para alimentarem o despudor dos seus ímpetos imperialistas.
Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de maio de 2024 do Jornal da Família