A espiritualidade não é algo tangível, a espiritualidade é íntima, é invisível, pode ser sentida em todo o lado, mesmo no Estado menor do mundo. A cidade-estado de San Marino, nascida 100 anos antes do colapso do Império Romano, conseguiu preservar a sua independência ao longo dos séculos, apesar das muitas invasões que a Itália sofreu, até recuperar a unidade em 1860. Mesmo assim, conseguiu evitar ser incorporado no nascente Estado italiano. É fascinante perder-se neste labirinto de ruelas medievais, respirando o ar deste microestado que tem o orgulho de ser a República mais antiga do mundo.
A igreja principal é dedicada a São Marino, que descobri representado num baixo-relevo por baixo da praça principal. É representado como um homem idoso, com um cinzel na mão e um urso por perto. Segundo a lenda, Marino nasceu na Dalmácia. É um humilde pedreiro à procura de trabalho. Assim, juntamente com o seu amigo Leone, muda-se para a Emilia Romagna, onde são contratados juntamente com outros pedreiros. Nessa altura, a religião cristã era perseguida e punida até com a morte. Marino é cristão e põe em prática os ensinamentos do Evangelho. Uma mulher de má fé, apaixona-se por ele e, para se vingar da sua rejeição, denuncia-o às autoridades. Marino não se revolta, as suas armas contra a injustiça que sofreu são a oração e o jejum, e, graças a isso, torna-se livre. Decidiu refugiar-se num lugar belo, impenetrável e desabitado, no cume do monte Titã, onde se dedica à oração e à conversão dos pagãos. A ele se juntam outros discípulos e a comunidade cresce cada vez mais. No entanto, o terreno ocupado pelo grupo de cristãos pertence a uma mulher chamada Felicíssima que, furiosa, envia o filho Veríssimo para expulsar Marino da sua propriedade. Assim que o filho se aproxima do quebrador de pedras, fica paralisado. A mãe pede a Marino que o ajude, as preces do eremita são ouvidas pelo Senhor e Veríssimo fica curado. Felicíssima apercebe-se de que ele é um santo e oferece-lhe as suas terras. Depois de se ter refugiado nas montanhas em oração e solidão, Marino é chamado pelo bispo de Rimini, Gaudêncio.
Após o encontro com o bispo regressou à montanha, onde encontrou a sua casa ocupada por um urso, que tinha devorado o seu burro. O Santo aproximou-se do animal feroz, que, em vez de o atacar, tornou-se seu fiel ajudante, a partir desse momento. Ordenado diácono pelo bispo de Rimini, Marino construiu uma igreja e um mosteiro com as suas mãos hábeis. Assim nasceu o mais antigo e menor Estado do mundo. A sua autonomia tem origem numa frase proferida em 301 pelo Santo aos seus seguidores, pouco antes da sua morte: “Deixo-vos livres de ambos os homens, isto é, do imperador e do Papa“.
San Marino foi uma nova descoberta, um Estado, um Santo, uma cidade com belas paisagens e sobretudo à luz do pôr do sol, a pincelada silenciosa de Deus no Céu.
Atenção, leitores, junho tem sabor a… outra descoberta, outro santo, outra beleza da Espiritualidade em viagem…
Texto e Fotos: Cristiano Cirillo
circri@libero.it
Artigo da edição de maio de 2024 do Jornal da Família