A esperança não engana é o título da Bula com que o Papa Francisco faz a proclamação do Jubileu Ordinário do ano 2025, com a abertura da Porta Santa a 24 de dezembro de 2024 e a clausura a 6 de janeiro de 2026, convidando toda a comunidade cristã a ser peregrina da esperança.
Depois de um longo período, em que estivemos envolvidos em processos de escuta e discernimento, e refiro-me ao caminho sinodal que ainda estamos a viver e que vai ter mais um momento importante na assembleia sinodal do próximo outubro, é agora tempo de começarmos a ousar as concretizações a que o Espírito nos interpela. É nessa linha que leio também este ano jubilar. Não se trata somente de apelar à esperança, o que só por si já seria muito importante e necessário, sobretudo no momento histórico que estamos a viver, trata-se também, e no meu entender principalmente, de sermos testemunhas e agentes da esperança, ou seja, de estarmos verdadeiramente comprometidos com aquilo em que esperamos, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para possibilitar que comece já acontecer, marcando, também já e deste modo, o presente que estamos a viver.
Ser peregrino da esperança, leva-nos, pois, a assumir uma atitude muito ativa, com a consciência de que aquilo que queremos anunciar e partilhar é uma graça que reconhecemos ser dom gratuito do Deus em que acreditamos, e dom que nos é concedido para que o possamos fazer chegar a todos, em todos os lados.
Estamos mesmo a viver uma mudança de tempo em que somos chamados, enquanto humanidade e enquanto cristãos, a ousar construir a sociedade e o futuro de um modo diferente, cuidando uns dos outros e cuidando da nossa casa comum, por isso este jubileu é tão importante, por isso a necessidade de sabermos ter de ser sinal de esperança.
Nesta linha, o texto da Bula identifica alguns sinais de esperança que, neste momento, é urgente protagonizar. O primeiro tem a ver com a paz. Quando estamos a presenciar o multiplicar e o adensar de conflitos bélicos nas mais diversas geografias do globo, o empenho na construção e promoção da paz deve ser missão assumida por todos, de uma forma evidente, corajosa, concreta e criativa.
Os presos são referidos, sugerindo-se gestos concretos que possam ser sinal de esperança, ensaiando, por exemplo, percursos de reinserção na comunidade e formas de amnistia e de perdão que possam ajudar as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade.
Também os doentes, os migrantes e os idosos são lembrados, incentivando a uma proximidade que seja capaz de testemunhar o carinho e a ternura com os quais se afirma que ninguém se esquece, nem desiste deles, por mais difíceis que possam ser as situações em que se encontram.
A aposta inequívoca na vida é outro dos sinais apontados. Olhar para o futuro com esperança equivale a ter uma visão da vida carregada de entusiasmo pela existência. Deste modo, pedem-se ações e gestos concretos, no contexto do incremento da natalidade e da defesa das crianças, não só da parte dos pais, mas também das diversas instituições, dos agentes e decisores sociais, políticos e religiosos e dos governantes. Os jovens são igualmente destacados, constatando-se como é paradoxal e triste ver jovens sem razão de esperar. O convite é a que, com renovada paixão, se cuidem os adolescentes, os estudantes, os namorados, as gerações mais jovens.
Uma palavra de grande relevo é dedicada aos pobres, a quem muitas vezes falta o necessário para viver. Perante a pobreza não pode haver resignação possível. Não podemos habituar-nos à pobreza, nem dela podemos desviar os olhos. Num mundo dotado de tantos recursos, a pobreza não pode deixar de ser olhada como um enorme escândalo. Por isso, o Papa convida as nações mais ricas a reconheceram a gravidade de muitas decisões tomadas, que acabaram por contribuir para o aumento da pobreza, estabelecendo, com coragem, o perdão das dívidas dos países pobres, que nunca poderão pagá-las. Renova igualmente o apelo a que, com o dinheiro gasto em armas e outras despesas militares, se constitua um Fundo Global para acabar de vez com a fome e para incentivar o desenvolvimento dos países mais pobres.
Estes e outros sinais são necessários e indispensáveis, e deles precisamos para podermos responder aos desafios do futuro. Como comunidades cristãs não nos podemos dispensar de trilhar este caminho, assumindo protagonismos que acabam por ser exigência da própria fé. Peregrinos da esperança, é isso que somos chamados a ser, reconhecendo que a concretização destes sinais se traduz no exercício da profecia, que é capaz de abrir novos horizontes e descobrir novas possibilidades.
Juan Ambrosio
juanamb@ucp.pt
Artigo da edição de junho de 2024 do Jornal da Família