Dulcinda de Jesus Batista tem 87 anos e diz que não consegue estar parada. Há dois anos que dá vida aos espaços do Lar Betânia, em Fátima, e tudo faz para se manter ativa. “Não posso estar parada”, conta ao Jornal da Família. “Limpo as mesas, descasco fruta na copa ou ajudo em outras tarefas, faço a minha cama e ainda arranco umas ervinhas daninhas às couves do quintal”, descreve a D. Dulcinda.
Dulcinda é uma das utentes cujas capacidades físicas e mentais lhe permitem ter uma vida relativamente autónoma no Lar Betânia. Mas mesmo os outros utentes, mais debilitados física e mentalmente, são incentivados a exercitar a sua atividade, por mais reduzida que seja. “Tenho 72 anos, já parti as pernas por duas vezes, mas quando vou à ginástica faço o que posso”, conta Emília de Jesus, há 3 anos nesta casa.

O Lar Betânia, Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, é um equipamento social a cargo das Cooperadoras da Família e completa este ano 40 anos de existência. Ao longo de quatro décadas tem sido a casa, o lar e a família de muitos idosos que aqui são cuidados por uma equipa multidisciplinar que além de cuidar, ama e mima cada um como ser humano único.
O Lar Betânia é uma casa grande, onde vive uma família alargada. Tem 73 utentes e cerca de 50 funcionários. Muita gente para cuidar e muita gente para ser cuidada. “Há aqui um ambiente muito familiar na forma como toda a equipa trata cada utente. Tentamos cuidar dando vida aos dias destas pessoas. Há muitas brincadeiras, um ambiente bem-disposto para que o idoso não se deixe desanimar pela sua condição de idoso, muitas vezes dependente”, refere a Cooperadora Cristina Reis, Diretora Técnica do Lar Betânia.

Nos últimos anos a equipa tem reparado que os utentes chegam aqui com mais idade e mais debilitados. “Alguns utentes já nos chegam com incapacidades físicas, outros já apresentam limitações cognitivas acentuadas. O que tentamos fazer é adaptar as atividades a cada um”, refere a Gerontóloga Lara dos Santos.

Proporcionar aos utentes um ambiente familiar é o grande objetivo da instituição. Este ano as atividades decorrem sobre o lema “Família, um Projeto de Amor”. Para Cristina Reis este tema traduz-se no “carinho quotidiano” de toda a equipa. “Depois as atividades que a Animadora vai realizando com o apoio da restante equipa técnica – Gerontóloga, Assistente Social e eu própria – são pequenos gestos que pretendem melhorar a vida destas pessoas”.
Essencial no equilíbrio entre o bem-estar físico e o bem-estar mental é a presença da família. “Nós tentamos incentivar os contactos familiares desde o momento da admissão e consciencializar as famílias para a importância que elas têm neste processo de envelhecimento”, refere a Assistente Social Nélia Réis. “Apesar de estar institucionalizado, o idoso(a) continua a ser membro ativo da família e como tal ela é muito bem-vinda”, refere.
Isabel Simões há muitos anos que vê nesta casa um prolongamento da sua família. A mãe Emília, com 94 anos, reside aqui há 9 anos. “Venho aqui uma a duas vezes por semana e recordo-me que a minha mãe, quando estava consciente, dizia que não podia dar um ‘ai’ que vinham logo perguntar o que precisava”, conta Isabel Simões. “Dizia que gostava muito da comida e que lha davam quando ela queria”, conta a rir. “Quem me dera chegar à idade dela e ter um sítio para cuidar de mim como a cuidam aqui”, conclui Isabel Simões.

Uma das prioridades da casa, na relação com a comunidade, é envolver as famílias nas suas atividades. As datas a assinalar são sagradas: o Dia da Mãe, o Dia do Pai, Dia da Mulher, o Dia do Fundador Pe. Alves Brás, a Festa da Família, ou os Santos Populares são momentos de convívio e quebra da rotina diária onde a presença das famílias é fundamental. Mas há outras atividades que têm levado os idosos a eventos promovidos pela Junta de Freguesia ou Câmara Municipal ligados ao teatro, aos museus, às tradições, ou eventos que juntam instituições da região. “A Covid abrigou-nos a fechar portas, agora queremos exatamente o contrário. Queremos abrir as portas e tentar promover saídas para que os utentes tenham uma vida o mais normal possível, inseridos na sociedade”, explica Nélia Reis.
“Os dias não são sempre alegres e felizes, há dias pesados para a equipa”, reconhece Cristina Reis. “A perda de um utente deixa sofrimento, é um bocadinho de nós que parte”, acrescenta. Mas reconhece que o esforço de cada membro da equipa converge para um único fim. “Tentamos que cada utente seja o mais feliz possível o tempo que estiver aqui”, conclui Cristina Reis.
IM
Artigo da edição de junho de 2024 do Jornal da Família