Julho e agosto são meses tradicionais de férias para a grande maioria dos portugueses. Nem todos podem sair de casa e ir para outras paragens, mas certamente haverá mais tempo para estar com os filhos e com os netos.
No começo do ano letivo, em setembro, é usual ouvir os professores queixarem-se de que os alunos, após as férias, estão mais agitados e parecem ter esquecido as regras básicas de convivência. Tenho de concordar com eles, porque eu também sentia isso.
Já em várias ocasiões eu tive oportunidade de dizer que, sem os pais se aperceberem, quem manda em casa, na maioria dos casos, são os filhos: desde pequenos, escolhem a comida, a roupa, os locais de lazer, etc. E os pais (e avós), para evitar birras e amuos (e chatices), cedem. Não, não estou a inventar…
Estando os filhos, nas férias, mais tempo com os pais, é, pois, provável, que abusem, e deixem de praticar hábitos já adquiridos. Tive, em junho, o privilégio de passar uns dias na praia com dois dos meus cinco netos, conjuntamente com os pais. E vi a Joana, com dois anos, a fazer birra porque não gostava de uma determinada marca de iogurte, a ter dificuldade em comer autonomamente e a usar fralda. Curiosamente, quando regressou à creche, voltou a comer por mão dela, comia o que lhe punham à frente sem reagir e recusou sair de casa com fralda. O Francisco, com quatro anos, e até para imitar a irmã, também refilava volta e meia com a comida, precisou de ajuda para comer em algumas refeições, fazia birras quando não lhe fazíamos a vontade e às vezes mostrava-se um pouco irreverente. Nada disto sucede na “escolinha”.
Todos os avós sabem muito bem que quando convivem com os netos sem os pais presentes eles são, normalmente, mais cumpridores do que quando estão com os pais por perto. A psicologia (e o senso comum) explica tudo isto: com os pais, os filhos sentem-se “mais à vontade” e desleixam…
Estando agora em pleno período de férias escolares, urge, pois, contrariar esta tendência – cada vez mais acentuada – que conduz, mais tarde, à indisciplina estrutural, à falta de respeito pelas normas de convivência (e pelas pessoas), à recusa da autoridade, à violência, à infelicidade.
Dar, nestas alturas, ocasionalmente, um bolo ou um gelado, nada tem de mal. Mas todos os dias aceder a esta exigência, é “pecado”. Ceder às birras, só para não ouvir a criança a chorar, só levará a criança a utilizar, por sistema, esta estratégia. Nestes dias, quando tal sucedeu diretamente comigo, ou não ligava e deixava chorar, ou procurava sugerir algo que o Francisco ou a Joana gostavam de fazer (por exemplo, construções na areia, ou um passeio à beira-mar). E quando o estado emocional normalizava, não deixava de dar “bons conselhos”, ou seja, semear o bem. Como eu acredito que estes conselhos são importantes, embora muita gente por aí diga que “não vale a pena”, “eles nem ouvem” ou “entra por um ouvido e sai pelo outro”! E os avós, previsivelmente com mais tempo e com uma paciência que não tiveram com os filhos, têm um papel muito especial neste processo.
Entretanto, pais (e avós) aproveitem este tempo de férias para brincar muito com os filhos (e netos). Para nadar com eles, visitar monumentos, fazer passeios pelo campo, ler/ contar histórias. E para rezar.
Com estas atitudes, assumidas com amor e assertividade – e de forma sistemática –, será mais provável as crianças e adolescentes chegarem a setembro não esquecidos das regras de cidadania e de socialização ensinadas (também) na escola. E, sobretudo, será mais provável eles crescerem saudavelmente e serem pessoas realizadas e felizes, capazes de conviver com as (muitas) adversidades da vida.
Com estas atitudes, as férias serão mesmo “pedagógicas”!
Boas férias!
Jorge Cotovio
jfcotovio@gmail.com
Artigo da edição de julho de 2024 do Jornal da Família