A Igreja vive, em 2025, um tempo marcado por memória e gratidão, não somente por conta do Ano Jubilar e pela eleição do Papa Leão XIV. Assinalam-se também os 1700 anos do Concílio de Niceia, o primeiro Concílio Ecuménico da história cristã, que teve lugar no ano 325. Foi um momento decisivo na vida da Igreja, tanto no plano da fé como no da sua relação com o mundo. Reunidos por iniciativa do imperador Constantino, os bispos de diferentes regiões do Império encontraram-se em Niceia, na Ásia Menor, com o objetivo de promover a unidade numa altura em que surgiam interpretações divergentes sobre a pessoa de Cristo. A situação exigia clarificação, diálogo e, acima de tudo, comunhão. Deste encontro nasceu o chamado “Credo Niceno”, uma formulação clara da fé cristã que continua a ser rezada nas nossas comunidades até hoje.
O Concílio de Niceia não aconteceu num vazio social ou político. Poucas décadas antes, os cristãos tinham sofrido perseguições severas. Com a conversão do imperador Constantino e a promulgação do Édito de Milão em 313, o Cristianismo deixou de ser perseguido e passou a gozar de liberdade e reconhecimento. Nesse novo contexto, surgia a oportunidade — e também a responsabilidade — de procurar uma expressão comum da fé que unisse a Igreja. O Concílio foi, assim, uma resposta serena às tensões internas, mas também um sinal de maturidade: os pastores da Igreja reuniam-se para escutar, dialogar e discernir em conjunto.
A importância de Niceia reside precisamente nessa atitude de comunhão. Ao enfrentar com serenidade as diferenças teológicas, os bispos não procuraram impor uma visão, mas esclarecer a fé à luz da Escritura e da Tradição. Ao afirmar que Jesus Cristo é “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, o Credo de Niceia não foi uma inovação, mas uma confirmação daquilo que os cristãos já acreditavam e viviam, agora proclamado com maior clareza. Foi também uma forma de garantir que, apesar das diferentes culturas e línguas, a fé comum pudesse ser professada por todos os fiéis em unidade.
Hoje, a memória de Niceia convida-nos a renovar o nosso compromisso com essa mesma fé e a valorizar o caminho da comunhão. O mundo contemporâneo apresenta muitos desafios — culturais, sociais, espirituais — mas a resposta da Igreja continua a ser a de sempre: viver a fé com autenticidade, escutar com atenção, dialogar com respeito e construir pontes onde há separações, caminhando juntos. A celebração dos 1700 anos de Niceia não é apenas uma lembrança do passado, mas um apelo atual à unidade, à esperança e à fidelidade, que juntas dão força à sinodalidade.
Neste tempo em que recordamos os grandes marcos da nossa história, somos também chamados a olhar para o presente com confiança. O Espírito Santo, que guiou a Igreja no século IV, continua a conduzi-la hoje. Que esta celebração nos ajude a professar a nossa fé com alegria, a aprofundar a comunhão nas nossas comunidades e a testemunhar no mundo a luz serena e firme do Evangelho, guiados pelo nosso Bispo Papa Leão XIV!
Murillo Missaci
missacimb@gmail.com
Artigo da edição agosto/setembro de 2025 do Jornal da Família
Imagem Wikipedia: Afresco do século XVI alusivo ao Primeiro Concílio de Niceia, em 325





