O Amor na Família – Gramática para viver, celebrar e testemunhar o Mistério de Deus

Na edição de junho do Jornal da Família, Juan Ambrosio analisa o segundo vídeo publicado pelo Dicastério para os Leigos, a Família e Vida no âmbito do Ano Família ‘Amoris Laetitia’.

segundo vídeo, do conjunto de 10 a ser publicado durante a celebração deste ano dedicado à família, começa com duas perguntas. Na primeira, o Papa interroga-se sobre a maneira como podemos imaginar o amor de Deus.  A pergunta parece de fácil resposta, pois sempre ouvimos dizer que Deus é amor e todos sabemos como o amor é algo de maravilhoso. Por isso só podemos imaginar coisas boas. Apesar desta evidência, a pergunta permanece e continua a interpelar-nos, como que ‘exigindo’ uma resposta concreta para que as coisas não fiquem ao nível das afirmações demasiado gerais e bonitas, mas correndo o risco de ter pouca aderência à realidade. É nessa mesma linha que me parece formulada a segunda pergunta: Será que existe no mundo alguma realidade concreta que nos possa ajudar a ver o amor que Deus é com os próprios olhos, de modo a podermos compreendê-lo melhor?

A resposta dada pelo Papa com toda a convicção, por um lado confirma aquilo que de certo modo esperávamos, pois estamos no contexto da celebração da família, mas, por outro, quando pensamos bem nela, não pode deixar de nos surpreender. Como pode a família – e essa é a resposta que o Papa dá à pergunta anteriormente formulada – ser sinal do amor que Deus é? Como pode esta realidade, às vezes tão frágil, possibilitar que os nossos olhos vejam o amor que Deus é?  

Apesar de todas as ambiguidades e fragilidades existentes no amor familiar, estou sinceramente convencido de que o amor experimentado e vivido no seu seio pode ser uma das melhores gramáticas para vivermos e testemunharmos o Mistério de Deus. 

Todos sabemos, por experiência própria, qual é o ‘cimento’ que permite à família ser verdadeiramente família. Também todos percebemos como na sua falta tudo se torna muito mais difícil, acabando mesmo por poder ser posta em causa a própria realidade familiar. O amor é, na verdade, a base, o fundamento, o sustento diário da experiência familiar. Nele podemos fazer a experiência do que é ser dom gratuito. Ninguém pode ser obrigado a amar. Essa decisão – sim, porque também de uma decisão se trata e não simplesmente de um sentimento – brota, só pode brotar, de um profundo gesto de liberdade. O amor é sempre a decisão livre de querer ser gratuitamente para o outro. Todas as outras coisas, que também fazem parte da experiência familiar, só são verdadeiramente possíveis quando edificadas sobre esta base.

Também Deus, permitam-me dizer assim, não é obrigado a amar-nos. O amor que ele é em si (relação trinitária) e que ele é para nós é, também uma decisão profundamente livre e gratuita. Nada obriga Deus a criar-nos e a amar-nos. Contudo, gratuitamente cria-nos e gratuitamente nos sustenta e ampara na existência.

A experiência e vivência da gratuidade do amor vivido em família, pode, assim, ser a tal gramática que nos ajuda a responder, sem medo, às perguntas inicialmente referidas.

Inspirado pelas propostas partilhadas pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida deixo aqui duas perguntas e faço uma sugestão de dinâmica para ajudar a aprofundar esta temática.

Em que momentos da história da nossa família fomos capazes de identificar de uma maneira mais palpável esse amor gratuito e livre?

De que modo esses mesmos momentos nos permitiram perceber e viver um pouco melhor o mistério de amor que Deus é?

Procuremos, ao longo deste mês, preparar um serão com todos os membros da família, onde possamos celebrar a história da nossa família. Cada um é convidado a trazer um objeto, que em partilha explicará, e com o qual queira simbolizar um momento importante da vivência da gratuidade e liberdade desse amor que nos constitui como família e nos faz experimentar, de um modo mais concreto, o próprio amor de Deus.

Juan Ambrosio
juanamb@ft.lisboa.ucp.pt

Artigo da edição de junho do Jornal da Família

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