1. Tempos de turbulência
O Pe. Eduardo Duque, no Congresso Internacional “Atravessados pelo Amor e pela Esperança – Cuidar as famílias como(o) o Pe. Brás”, ao referir-se à evolução dos valores, salientou “a maior valorização da expressão individual”.
Trata-se de um indicador positivo numa sociedade em que se deseja, a justo título, que cada pessoa, no exercício da sua autonomia, possa contribuir com a sua “marca” para o bem comum.
Este é o entendimento que deve ser dado a este valor, em tudo distinto do exacerbamento do individualismo que, infelizmente, é muitas vezes apresentado como condição para ter “sucesso”.
Precisamos de revitalizar o sentido comunitário, na esteira do ensinamento do sociólogo Zygmunt Bauman quando afirma que comunidade é “tudo aquilo de que sentimos necessidade e que nos falta para nos sentirmos confiantes, tranquilos e seguros de nós”.
A competição desenfreada, ao invés, gera turbulência e exponencia a incerteza que a todos afeta, particularmente os adolescentes.
“O problema é que, enquanto as estruturas cerebrais para a motivação e as emoções começam a evoluir aos treze ou catorze anos e têm agora o motor de um Ferrari, as outras estruturas de controlo das emoções só terminam de se desenvolver aos vinte e dois ou vinte e três anos, pelo que, durante algum tempo, podes sentir que o motor do carro de corrida é acompanhado pelos travões de uma bicicleta” (Álvaro Bilbao, Prepara-te para a vida).
2. Estilos parentais e vinculação
Segundo Steinberg podemos identificar quatro estilos parentais:
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- Estilo autoritário, quando são definidas regras, mas com distância afetiva;
- Estilo com autoridade, quando são definidas normas, mas, simultaneamente, preserva-se um significativo acompanhamento emocional;
- Estilo permissivo, caracteriza-se, também, pela conexão emocional, mas sem a determinação de marcos que permitam orientar o comportamento dos adolescentes;
- Estilo desligado, neste caso falha quer a orientação, quer o estabelecimento de laços afetivos.
Como se compreende só o estilo com autoridade promove uma vinculação segura, absolutamente indispensável para os adolescentes considerarem os pais como figuras de referência, o que é crucial para “navegarem em águas agitadas”.
Este contexto reflete-se em “melhores resultados psicossociais, torna mais fácil o processo de autonomização, permite melhores resultados escolares, uma autoestima e saúde mental mais estáveis e positivas” (Helena Fonseca, Sete Margens).
3. Sugestões para a promoção do bem-estar dos adolescentes
Marian Rojas Estapé, no seu livro Recupere a sua mente, reconquiste a sua vida, deixa-nos algumas recomendações a este propósito:
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- Socializar pelo contacto pessoal direto. O écran, quando utilizado desmesuradamente, cerceia a empatia;
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- Dedicar-se ao voluntariado. É, porventura, uma das atividades para, mais precocemente, encontrar um sentido para a vida. É esta a bússola que carecemos para construirmos a felicidade que, manifestamente, é o antídoto para a obsessão pela gratificação imediata;
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- Praticar desporto, sobretudo quando é exercitado em equipa. São significativas as vantagens desta atividade, vão desde o desenvolvimento de competências a nível do relacionamento interpessoal, até ao controlo da impulsividade pela melhor gestão do stress pessoal;
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- Cuidar do sono. A falta de um sono reparador é uma das situações mais perniciosas. Muitas vezes a causa é o uso desregrado das redes sociais, o que se traduz, como é sabido, num déficit de atenção com consequências nefastas, entre outros domínios, no rendimento escolar. É preciso “carregar as baterias” e o sono de qualidade é um meio de excelência para este efeito.
Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de agosto/setembro de 2025 do Jornal da Família
Foto ilustrativa: Pixabay