De acordo com o conceito clássico da Organização Mundial da Saúde (OMS) datado de 1946, saúde é o estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. A saúde depende, pois, de um estado de equilíbrio ativo e dinâmico entre o ser humano em qualquer fase de crescimento e desenvolvimento e o seu meio. Numa perspetiva didática, podem ser considerados diversos fatores influenciando tal equilíbrio:
– Fatores físicos; relativamente a outras espécies animais, o ser humano está provido de recursos mais escassos sob o ponto de vista físico: corre menos, trepa menos, adapta-se mais deficientemente às condições adversas de temperatura e de humidade, por exemplo. As viaturas motorizadas, constituindo “corpos estranhos” nos meios urbanos ou rurais, utilizando formas de energia com características de velocidade e aceleração para as quais o seu organismo não está preparado, podem conduzir a certas doenças, exemplificadas pelas consequências dos acidentes de viação. Outras situações perturbadoras do equilíbrio, com repercussões de grau diverso na saúde, são o deficiente ordenamento urbano, as deficientes condições de saneamento e higiene, de habitação, etc..
– Fatores biológicos; os agentes microbianos (infecciosos), convivendo com o ser humano, fazem parte dum ecossistema. Uma das consequências do desequilíbrio no meio comum ao homem e aos microrganismos origina as doenças infecciosas, sabendo-se que a transmissão daqueles se pode fazer, não só diretamente de pessoa a pessoa, como através de componentes do meio como a água e alimentos contaminados, insetos vetores, etc.. Atualmente, com a facilidade de transportes por via aérea, tal transmissão pode fazer-se com grande rapidez.
– Fatores sociais; ao longo dos séculos, o ser humano, organizado em comunidades com características diversas, deu corpo a um sistema organizativo social e económico complexo caracterizado por produção e troca de bens entre as mesmas (por exemplo produção e distribuição de energia, de água, etc.) na procura de qualidade de vida e aumento de sobrevivência. Daqui podemos inferir as consequências, para o estado de saúde, que poderão resultar da falência de tal sistema.
– Fatores culturais; o ser humano é um ser que herdou cultura dos seus antepassados utilizando os instrumentos próprios da sua civilização, partilhando os bens coletivos da sociedade onde está inserido. Ora, o estado de saúde depende da utilização adequada dos recursos como nutrientes, água e ar; poderá haver perturbação neste equilíbrio se os recursos forem inadequados (por excesso ou por carência) ou se o estado educacional da população não permitir uma utilização racional e equilibrada daqueles. As doenças relacionadas com carências de alimentos (por exemplo subnutrição) ou com excessos (obesidade, diabetes, aterosclerose, alcoolismo, etc.) traduzem, na maior parte das vezes, comportamentos desviantes relacionados, quer com aspetos culturais, quer com disfunção dos mecanismos organizativos e educacionais.
Por fim, uma breve nota sobre o conceito clássico de Saúde Pública: o conjunto de atividades organizadas pela coletividade para manter, proteger e melhorar a saúde do povo ou das comunidades e grupos de população no meio em que vivem. Trata-se duma abordagem que, não abrangendo a medicina individual, é devotada essencialmente à comunidade.
João M. Videira Amaral
jmnvamaral@gmail.com
Artigo da edição de novembro de 2024 do Jornal da Família
Foto ilustrativa: Pexels