A ideia de que os jovens preferem estar sozinhos a ter companhia em casa não parece ser tão evidente como pensamos. Gostam do seu cantinho para jogar, ver um filme, pesquisar na Internet, mas acusam em alguns comportamentos a falta de alguém em casa para os acolher, conversar e tranquilizar. Na falta de melhor transferem para os telemóveis e computadores, e, consequentemente, tudo o que os envolve, o vazio caseiro, a falta de companhia quando chegam a casa após um dia ou uma manhã de aulas. Não há muito tempo havia sempre alguém em casa, os avós, os tios ou primos chegados ou mesmo alguns vizinhos de confiança para atender nestes momentos sem ninguém. Hoje estão em lares ou regressaram às terras que os viram nascer, pelos mais variados motivos. No agregado familiar todos trabalham ou estudam longe de casa. A única solução é o telemóvel para servir de entretenimento.
Acredito que para os alunos do secundário esta situação não seja tão preocupante, apesar de relevante, e até mais fácil de resolver tendo em conta já alguma maturidade e capacidade de resolução de problemas. Para os mais novos, em escolaridade básica, a situação requer maior reflexão e cuidado. O cuidado ou acolhimento de alguém da família é muito importante para a formação e crescimento. A modalidade de teletrabalho pode ser uma opção temporária a considerar, para a tranquilidade de todos e o bem-estar familiar.
A epidemia do Covid 19 veio acentuar esta forma de trabalho à distância. Manteve-se mesmo após o período pandémico. Como em tudo há vantagens e desvantagens. Para proporcionar um melhor acompanhamento aos jovens em idade escolar é uma modalidade a pensar e refletir. Consegue conciliar a atividade profissional com os deveres familiares. Os mais jovens agradecem embora muitas vezes não o deixem percepcionar. Naturalmente que evita a escolha de caminhos ou companhias menos salutares para o seu crescimento e também por isto é uma opção a viabilizar. A gestão dos tempos livres requer alguma responsabilidade, maturidade e discernimento para todos, muito mais para os mais novos, que estão em fase de aquisição destas competências. E como se teriam evitado tantos caminhos desastrosos e nada salutares para as famílias e para a sociedade em geral, havendo alguém em casa nestes espaços vazios!
A frase “Já são crescidos, não precisam de ninguém” muitas vezes referida pelos adultos como forma de justificar a capacidade destes para se auto-organizarem e cuidarem e, portanto, ficarem sozinhos, merece uma pausa, bem grande, para refletir e avaliar. Estão num caminho de formação, crescimento e aprendizagem com pouca experiência de vida para saberem fazer escolhas acertadas e tomarem boas decisões. Precisam de alguém mais experiente em quem confiem e lhes transmita segurança. Não estão preparados para a solidão porque são humanos e gostam e precisam de socializar.
O teletrabalho ou trabalho remoto está previsto na lei, claro que com algumas condicionantes, mas é mais uma ferramenta e oportunidade para as famílias organizarem o apoio à família. Deverá ser motivo de reflexão e ponderação. Implica, naturalmente, uma mudança no ritmo de vida, mas constata-se que os resultados alcançados são inquestionáveis para a formação humana e escolar dos mais jovens. Ninguém gosta de estar sozinho. Precisamos todos de cuidados e de saber cuidar uns dos outros, e, deste modo colaborar na construção de um mundo melhor.
Há momentos em que temos de tomar decisões importantes. Ponderar, refletir e atuar. Escolher ou não o teletrabalho é uma delas.
Acompanhar os mais novos no seu crescimento na escola ou em casa é uma oportunidade excelente de enriquecermos também a nossa formação e postura perante a vida e agradecermos a dádiva de ter uma família. Fazer escolhas, tomar decisões e fazer opções não é fácil, mas é uma realidade com que temos de conviver todos os dias.
Boas escolhas!!!
Goretti Valente
Artigo da edição de novembro de 2024 do Jornal da Família
Foto ilustrativa: Pexels/Vitaly Gaviev