Por várias vezes, neste espaço, partilhei momentos importantes da minha vida. Aqui dei conta de momentos felizes e de momentos de tristeza sempre relacionados com pessoas e acontecimentos muito significativos. Fi-lo não por qualquer motivo e necessidade de exposição, mas sempre para agradecer o apoio, a amizade e o carinho sentidos nessas ocasiões. Ser grato é para mim fundamental, pois ajuda-me a perceber as teias relacionais que são o suporte da existência.
Hoje volto de novo a esse registo para partilhar uma enorme alegria. No passado dia 10 de outubro, às 20h25, nasceu o Francisco, o nosso primeiro neto. O que senti (e continuo a sentir) foi de uma enorme intensidade. Tivemos a oportunidade de acompanhar os pais no hospital. Como é óbvio, eles na sala de parto e nós fora, acompanhando o evoluir da situação, através das várias possibilidades de mensagens que hoje estão disponíveis. De repente, no telemóvel dos quatro avós (sim, estávamos os quatro, e ter vivido esta experiência em conjunto foi também muito bom), depois do toque de mensagem, surgiu a primeira fotografia do Francisco. Tudo parou e no meu coração brotou um imenso hino de louvor e agradecimento. Os momentos que se seguiram foram como podem imaginar muito densos. Demos conta da feliz notícia a familiares e amigos e começamos a antecipar a emoção que seria vê-lo e tê-lo nos braços.
Essa oportunidade surgiu por volta da uma da manhã, quando os pais e o bebé foram para o quarto e nos deixaram lá ir para deixar as malas com as mudas de roupa, que ainda estavam connosco. Não consigo aqui dar conta do que senti quando lhe peguei pela primeira vez. Foi muito profundo. Veio-me a memória, também intensa, do nascimento dos meus filhos e o que foi, então, pegar-lhes pela primeira vez. Já me tinham dito que ser avô era muito especial. Imaginava que sim, mas estava muito longe de perceber que fosse assim.
No dia seguinte, num momento em que vim com o meu filho ao bar do hospital, ele confidenciou-me: Pai, é tão especial ser pai, é tão especial amar assim um filho. Pude então dizer-lhe que agora ele podia perceber melhor como eu o amo. Guardarei para sempre esse momento, pois é um daqueles que dá sentido à vida.
No dia em que escrevo estas linhas, partilhando convosco a experiência de ser avô, celebro 42 anos de namoro com a Cristina. Por eles dou graças a Deus. Olho para o caminho percorrido e agradeço tudo o que eles me proporcionaram A Cristina, o André e a Lúcia, o Filipe a Maria e o Francisco são pessoas maiores na minha vida, sem as quais já não sou capaz de me entender.
Apesar das dificuldades da existência, e sabemos como são muitas, apesar de tantos problemas no mundo, e sabemos como são grandes e preocupantes, a vida é sempre um mistério e um dom. Nunca duvidei disso, mas o Francisco veio de novo confirmá-lo de uma maneira maior.
Quando agora lhe pego no colo e o sinto descansado a dormir sei que tenho de continuar a lutar pela dignificação da família e pela construção de um mundo melhor. E aquele pequenino, aconchega aquele que lhe está a dar colo, ‘carrega-me as baterias’ e faz-me continuar a acreditar.
Permitam-me, ainda, uma outra partilha. Também como sempre as Cooperadoras se fizeram presentes neste momento. Num encontro de trabalho de preparação do Jubileu, deram-me um cartão onde estava a fotografia do Francisco e um texto que aqui transcrevo, com um sentimento de gratidão.
Ser avô é sentir felicidade,
É conhecer um amor doce, profundo,
É viver de carinho e ansiedade,
É resumir nos netos o seu mundo!
Ser avô é voltar a ser criança,
É fazer tudo pelo neto amado…
É provar a vide de esperança,
É reviver todo o seu passado.
Ser pais é dar o coração, eu creio,
Mas ser avô… que sonho abençoado!
É viver de ilusão, num doce enleio,
É viver no neto o amor ao filho amado.
Juan Ambrosio
juanamb@ucp.pt
Artigo da edição de novembro de 2024 do Jornal da Família
Foto ilustrativa: Pixabay