A designação de cuidados hospitalares corresponde às atividades desenvolvidas para atendimento dos doentes internados nos hospitais, isto é, em regime de hospitalização. Este termo é considerado sinónimo de internamento, embora tenhamos de contar com situações de internamento extra-hospitalar.
Os hospitais, na continuidade dos cuidados primários praticados em centros de saúde, constituem uma segunda linha de intervenção para situações de maior complexidade.
Para compreender o papel dos cuidados hospitalares, alegoricamente idealizou-se uma pirâmide com uma plataforma de base larga onde se situam os cuidados de saúde primários prestados pelos médicos de família nos centros de saúde. Nos andares intermédios, até ao vértice da referida pirâmide, surgem diversos patamares, andares ou plataformas, onde são colocados os cuidados hospitalares que, de baixo para cima, até ao vértice, “suportam” cuidados devotados a situações clínicas progressivamente mais complexas.
Ao nível do vértice situam-se as unidades de terapia intensiva/vulgo de “cuidados intensivos” para situações de gravidade máxima com risco de vida. As referidas unidades, possuem recursos tecnológicos sofisticados permitindo vigilância (monitorização) contínua de parâmetros vitais e possibilidade de ventilação artificial. Durante 24 horas/dia, 7 dias/semana, 365 dias/ano, laboram equipas fixas médico-cirúrgicas e de enfermagem altamente especializadas, salientando-se a ratio de 1 médico ou 1 enfermeiro/ 1 doente. Dada a escassez de enfermeiros, tal ratio nem sempre é conseguido.
Aos cuidados prestados pelos hospitais situados nas plataformas intermédias é dado o nome de cuidados intermédios (ou especiais), pressupondo que os doentes não necessitam de ventilação artificial. Nesta circunstância, as necessidades em recursos humanos e técnicos são menores, desde que se verifique menor gravidade.
Sob o ponto de vista de planeamento, importa referir que: 1 – nem todos os hospitais possuem a totalidade das valências descritas; 2 – o número de hospitais mais sofisticados proporcionando terapia intensiva é baixo, devendo os mesmos ser implantados em zonas de maior densidade populacional; 3 – estes princípios gerais aplicam-se aunidades de recém-nascidos e de grávidas de alto risco, com ou sem valência de cirurgia do recém-nascido.
Citando o Instituto Nacional de Estatística, no ano de 2020 havia 230 hospitais com as seguintes características de distribuição: 111 do SNS (~49%) e os restantes pertencentes ao setor social ou privado. No mesmo ano, quanto a número de camas, foram apurados os seguintes dados: total 35.429 de que 24.111 pertencendo aos hospitais públicos. Neste último número incluíam-se 1.000 camas de cuidados intensivos e 560 de cuidados intermédios.
Atualmente assiste-se às seguintes tendências: 1 – redução do número de camas e da estadia média em dias de internamento dado o incremento do número de procedimentos realizados em regime de ambulatório; 2 – pelo contrário, incremento do número de camas de cuidados intensivos associado a procedimentos para tratamento de situações cada vez mais complexas, em parte devido ao desenvolvimento de certas tecnologias e da medicina laboratorial.
Importa relevar a necessidade de uma boa cooperação entre todas as estruturas hospitalares de diferentes patamares, estando prevista, em função da evolução clínica, a necessidade de transporte do doente. Este objetivo é exemplarmente cumprido pelo INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) operando com ambulâncias (por terra ou por via aérea) utilizando material para terapia intensiva, manejado por equipa integrando médico e enfermeira intensivistas.
João M. Videira Amaral
jmnvamaral@gmail.com
Artigo da edição de março de 2025 do Jornal da Família
Foto ilustrativa: Pixabay