A verdade do amor, nas palavras de D. José Tolentino de Mendonça, não tem outra resposta senão a da entrega e a do dom.
Não é possível ao amor ser egoísta, nesse caso tratar-se-ia de uma contradição nos termos – uma caricatura do amor.
No que ao amor diz respeito identificam-se vários tipos, mas que, no essencial, convergem no mesmo conceito. Recordo, em abono desta posição, os testemunhos, dados numa sessão em que participei, de um casal que celebrava as suas bodas de ouro e de uma religiosa que, igualmente, comemorava os cinquenta anos dos seus votos.
Sobre o amor, na sua unidade e diversidade, é revelador o que nos diz o Papa Bento XVI, na sua encíclica Deus é Amor:
“Na realidade, eros e ágape (…) nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral. Embora o eros seja inicialmente sobretudo ambicioso, ascendente – fascinação pela grande promessa de felicidade – depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais com ele, doar-se-á e desejará «existir para» o outro. Assim se insere nele o momento ágape”.
O amor, nas suas várias declinações, envolve sempre o coração. Como nos ensina o Papa Francisco, na sua encíclica Amou-nos, “o coração torna possível qualquer vínculo autêntico, porque numa relação que não é construída com o coração não pode ultrapassar a fragmentação do individualismo. (…). Uma sociedade cada vez mais dominada pelo narcisismo e pela autorreferencialidade é uma sociedade «anti-coração». E, por fim, chega-se à «perda do desejo». Porque o outro desaparece do horizonte e fechamo-nos no nosso egoísmo, sem capacidade para relações saudáveis. Como resultado, tornamo-nos incapazes de acolher Deus”.
A propósito das declinações do amor e elaborando agora, mais especificamente, sobre o amor conjugal, merece a nossa atenção o que Enrique Rojas apresenta no seu livro O Amor Inteligente:
”O amor inteligente é composto pelos seguintes elementos imprescindíveis: coração, cabeça e espiritualidade. É preciso ter cuidado para conseguir que seja um projeto total, que envolva as pessoas e as impulsione a aspirarem ao que for melhor. Então, sim, será possível compreender que o amor é o motor do universo, o que dá sentido a tudo. Com amor, suaviza-se o que é difícil, e os revezes próprios da existência, superam-se com mais facilidade. Um amor inspirado no melhor que o homem tem e pode vir a ter, sim, vale a pena. Hoje em dia vemos, com bastante frequência, amores insignificantes, levianos, pobres, com escassos argumentos, e o que me parece mais grave, amores que desconhecem a grandeza, a profundidade e a complexidade das relações. Trata-se de verdadeiros monumentos à superficialidae que, a longo prazo, levarão à rutura. Faltando a base, quando sobrevêm os revezes ou contrariedades, tudo se desmorona, porque não há alicerces minimamente firmes, capazes de sustentar a construção emocional”.
Torna-se, por todas estas razões, necessário evidenciar a relevância do compromisso:
· Aqueles que se deixaram enredar nas teias do egocentrismo não conseguem assumir compromissos, porque não tiveram a coragem de se libertar de si próprios;
· O compromisso desempenha, a médio/longo prazo, um papel insubstituível, porquanto permite contrabalançar uma certa tendência para os “altos e baixos” da relação;
· O compromisso, pressupondo um quadro de estabilidade para o casamento, reduz a incerteza tendo, por isso, um impacto positivo no investimento conjugal.
· Finalmente, o compromisso, corretamente entendido, impulsiona o casal a pedir ajuda quando se confronta com problemas de difícil superação. É isto que eu tenho podido constatar nas minhas sessões de orientação conjugal.
Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de abril de 2025 do Jornal da Família
Foto ilustrativa: Pixabay