O jovem Joaquim Alves Brás, que viria a ser conhecido na sua vida e missão por Pe. Brás, aprendeu a conviver muito cedo – onze anos – com a deficiência (coxalgia) que o marcou com uma limitação no andar para toda a vida. Isto não o impediu de realizar o sonho de se tornar sacerdote e de viver uma vida ativa dedicada ao serviço do próximo, sobretudo da família, e das que trabalhavam no serviço doméstico, designadas na altura por “criadas”. A deficiência tornou-o mais sensível às limitações e sofrimento dos outros. Quando já sacerdote – Diretor Espiritual do Seminário da Guarda – tornou-se visita assídua e atenta do hospital local. Aí captou a sua atenção a frequência e a patologia de uma classe de doentes que correspondia à profissão das “criadas”. Tomou consciência dos abusos e abandono a que estavam sujeitas que as impelia, com frequência, para as malhas da prostituição. Impunha-se fazer alguma coisa por elas, e sobretudo com elas, que as tornasse conscientes da sua dignidade, as protegesse dos abusos a que estavam sujeitas e lhes desse proteção social no desemprego e na doença numa altura em que não estavam abrangidas pelo esquema de segurança social das trabalhadoras. Assim nasceu a OPFC (Obra de Previdência e Formação das Criadas), a Obra de Santa Zita, apoiada numa rede de casas nas principais cidades do país onde a incidência da profissão era mais numerosa. As Casas de Santa Zita eram autónomas na sua gestão como estabelecimentos de alojamento e restauração pública. O serviço era garantido pelas formandas ou profissionais alojadas provisoriamente por incidências do desemprego. A Obra de Santa Zita estimulava a formação inicial e contínua, poupança, proteção e apoio social das suas associadas organizadas em núcleos por todo o país.
A atenção prestada às “criadas”, procurando garantir a sua dignidade e direitos, visava diretamente a sua função de colaboradoras das famílias. O foco da atenção do Pe. Brás esteve sempre orientado para o apoio à família. Fundou o Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF) em 1933.
As atuais Constituições do Instituto Secular das Cooperadoras da Família definem-no como “um Instituto de vida consagrada, de caráter secular, constituído por pessoas do sexo feminino que fazem a profissão de praticar, no mundo, os Conselhos Evangélicos de Pobreza, Castidade e Obediência, dedicando-se inteiramente ao Apostolado, quer direto, quer de presença, pelo testemunho da sua própria vida, vivida nas condições habituais de qualquer cristão leigo.”
Foram características do carisma do Pe. Joaquim Alves Brás:
- A atenção à realidade das pessoas que estavam à sua volta e motivação para alterarem as suas atitudes e participarem na ação comum tendente a encontrar resposta aos problemas encontrados;
- A mobilização para a ação comum com o compromisso de cada uma – as agentes eram mulheres – assumir as responsabilidades que lhe competiam para atingirem os objetivos comuns;
- A valorização pessoal humana e cultural das Cooperadoras, os quadros do Instituto. A maior parte começaram como “criadas”. As suas horas livres foram dedicadas ao estudo e completaram os cursos que podiam servir para a ação do Instituto, nomeadamente o de educadoras.
A profissão e estatuto tradicional das “criadas” desapareceu. As condições de vida das famílias urbanas dificultaram a coresidência do pessoal do serviço doméstico porque teve acesso à legislação, garantias sociais e remuneração da generalidade dos trabalhadores.
As Cooperadoras perderam a sua base social de recrutamento, deixaram de ter justificação?
Pelo contrário, a sua função social, a sua missão torna-se cada vez mais necessária no apoio a uma família em que as mulheres, as mães, trabalham fora do lar e precisam de apoio principalmente para o cuidado e educação dos filhos. É hoje o principal trabalho das Cooperadoras juntamente com o apoio espiritual dos grupos de casais do Movimento por um Lar Cristão (MLC).
As Cooperadoras da Família têm hoje um carisma próprio que ultrapassa muito o apoio à Obra de Santa Zita e dela se tornou autónomo no seu recrutamento vocacional. Como dizem as suas Constituições, art. 13 “tomam o nome de Cooperadoras da Família para se recordarem constantemente da sua missão – o cuidado da santificação da Família”. Como Instituto Secular que são fazem-no como consagradas assumindo os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência no apostolado familiar direto e no desempenho profissional de tarefas relacionadas com o apoio das famílias e a dinamização de obras sociais e apostólicas.
Octávio Morgadinho
Artigo da edição agosto/setembro de 2024 do Jornal da Família