A palavra “Idadismo” entrou o ano passado no Dicionário da Língua Portuguesa. Significa a atitude de discriminação e preconceito com base na idade. O tema é trazido a reflexão por Furtado Fernandes.

A Academia de Ciências de Lisboa acrescentou, em 2023, uma nova palavra no Dicionário de Língua Portuguesa: o idadismo. E deu-lhe um significado – atitude de discriminação e preconceito com base na idade. O idadismo pode afetar qualquer pessoa, mas as pessoas mais idosas são as mais atingidas. É por essa razão que alinhamos, para estes casos, algumas reflexões.

Analisando este conceito mais profundamente, é possível identificar três dimensões:

  • Os estereótipos: como pensamos (“os idosos não têm interesse pela vida”, “não são sociáveis”, “não se preocupam com a sua aparência”, “são muito inseguros”, “são frágeis para fazer exercício físico”, “não têm curiosidade intelectual”);
  • Os preconceitos: como sentimos (se perante as pessoas idosas temos uma reação emocional generalizada de “pena” ou de “dó”, naturalmente que isto atenta contra a dignidade humana, apoucando o valor intrínseco que as pessoas têm independentemente da sua idade);
  • A discriminação: como agimos (o que se traduz no significativo isolamento das pessoas idosas, a quem não são proporcionados os estímulos de que tanto carecem – “já não têm interesse”, “já não são úteis”, por isso são descartadas).

“O idadismo tem consequências graves e de longo alcance para a saúde, o bem-estar e os direitos humanos. Para as pessoas idosas, o idadismo está associado a uma menor qualidade de vida, pior saúde física e mental, recuperação mais lenta da incapacidade e declínio cognitivo” (Relatório Mundial sobre o Idadismo).

A definição de medidas que possam contribuir para enfrentar este problema requer a identificação de diferentes níveis de intervenção:

  • Institucional que abrange as leis, normas sociais e políticas que discriminam os indivíduos apenas pelo critério da idade. Como exemplos pode citar-se, no setor da saúde, as políticas que restringem os cuidados requeridos pelas pessoas mais idosas e, no mercado de trabalho, práticas de contratação que, a partir de uma certa idade, não recrutam pessoal, independentemente das competências dos candidatos;
  • Interpessoal que se traduz em comportamentos determinados apenas pelo fator idade. É o caso, por exemplo, de comunicar com as pessoas idosas usando expressões que, objetivamente, as infantilizam. Elas devem ser tratadas pelo nome com que sempre quiseram ser identificadas, ao invés da utilização de diminutivos que, pese embora “as boas intenções”, apenas as menorizam;
  • Intrapessoal, provavelmente a situação mais perversa, que corresponde a assumir uma atitude idadista contra si próprio, o que causa uma profunda quebra de motivação e, em última análise, uma desesperante falta de interesse pela vida.

É essencial, para envelhecer com qualidade, desenvolver atividade física e cognitiva em domínios como:

  • Atividades de voluntariado que promovem a cooperação e a solidariedade e que criam, para o próprio, valor em termos de conhecimentos, experiência e autoestima;
  • Aprendizagem intergeracional incluindo a mentoria e o intercâmbio de experiências, estimulando que idosos e jovens troquem conhecimentos e competências. Grande parte da aprendizagem intergeracional tem lugar informalmente na comunidade e, também, em atividades organizadas por instituições religiosas, associações culturais, bibliotecas, museus, organizações desportivas, etc.

O Papa Francisco, no seu livro Uma Boa Vida, refere a este propósito: “Os idosos têm sonhos permeados de recordações, de imagens de tantas coisas vividas, com a marca da experiência e dos anos. Se os jovens se enraizarem nos sonhos dos idosos, conseguem ver o futuro, podem ter visões que lhes abrem o horizonte e mostram novos caminhos. Mas se os idosos deixarem de sonhar, os jovens já não podem ver claramente o horizonte”.

Furtado Fernandes
j.furtado.fernandes@sapo.pt
Artigo da edição de agosto/setembro de 2024 do Jornal da Família

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