A zona privilegiada junto ao mar, com águas ricas em iodo e dois hospitais nas redondezas, criaram no Pe. Alves Brás o sonho de construir uma casa na zona de Carcavelos. A concretização do sonho seria interrompida pela morte inesperada do Fundador da Família Blasiana, em 1966, mas as seguidoras do seu carisma, as Cooperadoras da Família, deram-lhe corpo e em 1974 nasce o Centro de Cooperação Familiar – Creche e Pré-escolar “O Botãozinho”. Nos meses de abertura, julho e agosto de 1974, funcionou como colónia de férias de jovens adolescentes e em setembro começou a acolher as primeiras crianças.
A história do ”Botãozinho” é contada por Maria dos Prazeres, 79 anos, 50 dois quais ao serviço desta casa. “A primeira criança que recebemos tinha 15 dias porque nesse tempo não havia licença de maternidade e as mães tinham de ir trabalhar”, explica a Cooperadora Prazeres. “Abrimos apenas duas salas, um grupo de 30 crianças, e depois tivemos um crescimento enorme e hoje temos 14 salas e 260 crianças”.
A casa, conhecida e reconhecida pela qualidade educativa e pedagógica, tem vindo a acompanhar os tempos e a adotar as melhores e mais modernas práticas educativas. À estabilidade da equipa educativa e pedagógica juntam-se os valores educacionais e de fé embrenhados no carisma do Pe. Alves Brás. Uma complementaridade que tem levado sucessivas gerações a colocarem aqui os seus filhos. As primeiras crianças aqui acolhidas têm hoje 50 ou pouco mais de 50 anos. Já aqui colocaram os filhos e alguns já estão a colocar cá os netos.
Foram todas estas gerações que, no passado dia 6 de julho, se juntaram no “Botãozinho” para fazer festa em ação de graças. Da parte da parte, um espetáculo levado a cabo pelas crianças do Pré-escolar deu a conhecer a história da Vida e Obra do Pe. Alves Brás num trabalho de encenação e guarda-roupa que aliou a representação à música e à dança e transformou as crianças em verdadeiros artistas. Os meninos e meninas mais pequenos da Creche também subiram ao palco para contar a história da construção e do nome “Botãozinho”.
As doces memórias
No final do espetáculo a emoção tomou conta daqueles que foram chamados a dar testemunho da sua passagem por esta casa. Patrícia Brás foi uma das primeiras crianças a frequentar “O Botãozinho”. Recorda o carinho, a alegria e o cheiro da comida desta casa. “Eu morava aqui perto e habituei-me a ver a casa branca com as portadas verdes e criei uma relação com as Cooperadoras e mais tarde as minhas três filhas também frequentaram esta casa”, conta Patrícia que, a convite das Cooperadoras, acabou por integrar o Movimento por um Lar Cristão (MLC) e aproximou-se da Igreja. “Eu e o meu marido acabámos por fazer o caminho de evangelização que culminou com o nosso batismo e casamento católico, um milagre que atribuo ao Pe. Brás”, conta Patrícia Brás.
Também Érica entrou nesta casa pela primeira vez em 1974, tinha três meses. Hoje, aos 50 anos, recorda a relação de proximidade com as Cooperadoras e a estabilidade da equipa educativa. “O staff mantém-se o mesmo mas as pessoas evoluíram muito e criaram uma escola muito moderna e muito querida por todos”. Por aqui também já passaram as suas três filhas.
Já a história da mãe Filomena Santos Silva confunde-se com a história do seu percurso profissional. Primeiro foi mãe de dois filhos que aqui colocou na Creche e Pré-escolar e depois ela própria acabou por entrar para esta casa fazendo parte dos seus quadros, até hoje. A “Filó”, como é conhecida, está há 25 anos no “Botãozinho”, onde exerce as funções de psicóloga e gestora da qualidade. “É uma casa de coração para mim, é aqui que sinto que posso fazer a diferença, onde me sinto acarinhada e onde sinto que o amor está acima de tudo. A equipa, os colaboradores são os mesmos de sempre, as Cooperadoras apoiam-nos sempre e estamos sempre a inovar e somos uma escola de última geração pondo Cristo no meio disto tudo”, afirmou a psicóloga Filomena. No centro de todo este trabalho educativo, que alia os métodos pedagógicos à fé, encontra-se a família. “As famílias estão sempre no nosso coração e viu-se pelos testemunhos de hoje, pais e mães que foram cá alunos e que voltaram para colocar os filhos e já vamos na terceira geração”, conta. “É maravilhoso. Vive-se no carinho, nos abraços, nos afetos e no prazer que as crianças têm de estar cá”, conclui.
Isabel Pereira é outro dos rostos que pais e crianças se habituaram a ver pelo “Botãozinho”. É Educadora e está nesta casa há 24 anos. “O nosso lema é o do Pe. Brás que dizia ‘Salvemos as famílias e salvaremos o mundo’. O nosso objetivo não é substituir as famílias, mas estar com as famílias, dar o melhor aos seus filhos e ajudá-los a crescer como a família de Nazaré”, afirmou a Educadora Isabel.
“O Botãozinho” em rede
O trabalho desenvolvido pelo “Botãozinho” ao longo de 50 anos tem também sido reconhecido pela autarquia de Cascais. “‘O Botãozinho’ é uma instituição de referência do nosso concelho”, afirmou Federico Pinho de Almeida, também presente nesta data comemorativa. Para o Vereador da área de Educação e Desenvolvimento Social da Câmara Municipal de Cascais, ao longo destes 50 anos, esta casa “tem formado muitas gerações, não só através do percurso do Pré-Escolar e Creche mas também naquilo que são os valores que incute a estes jovens e às respetivas famílias”. Frederico Pinho de Almeida destacou também o importante papel que “O Botãozinho” tem tido na partilha da sua experiência e conhecimento com outras instituições do concelho. “É uma instituição que dá muito de si, não só aos jovens e famílias que cá estão mas também àqueles que, mesmo não passando por aqui, acabam por ser contagiados por esta boa energia do ‘Botãozinho’”, referiu.
Educar com fé e na fé
Integrado na Paróquia da Parede, “O Botãozinho”, através das Cooperadoras da Família, sempre teve uma relação privilegiada com os seus párocos. Primeiro com o Pe. Octávio Morgadinho e mais recentemente com o Pe. Miguel Rodrigues. “O testemunho que chega das famílias é a importância dos valores que aqui encontram: do acolhimento, do amor incondicional, da casa, da família, do lar”, explica o Pe. Miguel. Valores que acabam por ser diferenciadores. “Na minha visão de fé, acredito que o que está por trás dos valores estruturantes do ‘Botãozinho’ é o Evangelho. É ele que permite que os valores se manifestem desta maneira tão bonita como vemos aqui”, afirmou o Pároco da Parede.
O encerramento da tarde celebrativa contou com uma eucaristia presidida por D. Alexandre Palma, Bispo Auxiliar de Lisboa, abrilhantada pelo coro dos pequenos cantores do “Botãozinho”. Numa pequena introdução, D. Alexandre agradeceu o compromisso educativo desta casa que ao longo de 50 anos tem transmitido a fé aos mais novos. A transmissão da fé aos mais novos “é uma das maiores obras de futuro que fazemos no presente, por isso bem-haja a todos os que aqui no presente constroem o futuro”, referiu o Bispo Auxiliar de Lisboa.
Perante uma assembleia constituída por pais, educadores e Cooperadoras da Família, na homilia, D. Alexandre pediu às crianças para não se esquecerem que Deus as visita a partir das famílias e disse aos pais e educadores que Deus visita as suas casas através das crianças. “Elas são formas de Deus vos bater à porta e não é apenas de casa, é bater à porta do coração e das vossas vidas”, referiu D. Alexandre Palma. “Vocês são expressão de Deus para estes meninos e estes meninos são expressão de Deus para vós”, concluiu D. Alexandre.
A tarde terminou com um lanche/convívio no espaço exterior do “Botãozinho” que reuniu Cooperadoras da Família, equipa educativa/pedagógica, pais e crianças.
IM
Artigo da edição agosto/setembro de 2024 do Jornal da Família