O Padre Joaquim Alves Brás foi chamado, e é conhecido, por “O “Apóstolo da Família” em Portugal, por ter dedicado praticamente toda a sua vida sacerdotal na prossecução do bem das famílias.
Dizer o bem das famílias, posto que possa parecer muito, é dizer pouco para a “desmedida” aspiração do seu coração de padre, a avaliar pela medida do seu amor a Deus e ao próximo que, como dizia S. Agostinho, era amar sem medida. De facto, para quem o escutou de viva-voz, ou o conhece por um mergulhar mais aprofundado nos seus escritos, tem como célebre a frase que ele convictamente pronunciava: A minha alma nunca está satisfeita; o Senhor pede-me sempre mais! E porque o Senhor lhe pedia sempre mais, e ele – são também palavras suas – não lhe tirava, ou seja, não negava ao Senhor, nem tanto como a cabeça de um alfinete, pretendia, e atingiu, uma medida alta, não só na sua santidade pessoal, mas também no seu apostolado.
Que medida alta era essa, no tocante ao apostolado, sobretudo da família? Era, nada mais, nada menos que a santificação da família. Para o Padre Brás, não só toda a pessoa, cada pessoa, devia aspirar e trabalhar pela santidade, como a própria família no seu todo, na sua génese, na sua vida e ação, devia ser santa. Este foi o seu carisma, este foi o carisma que deixou em herança, às suas seguidoras e seguidores.
O Padre Brás conhecia os problemas materiais, pessoais e sociais, dos indivíduos e grupos mais vulneráveis e trabalhou, incansavelmente, para conseguir o maior bem de todos quantos podia atingir através das suas obras, para atenuar a pobreza, a precariedade, o sofrimento físico, moral e social das pessoas e das famílias. Para isso, apelou à justiça, ao respeito e salvaguarda da dignidade, à solidariedade, e à caridade, e apresentou medidas e soluções preventivas e curativas das inúmeras carências pessoais, sociais e familiares, com que se deparou. Ele sabia que «pregar a estômagos vazios» não só não dava resultado, como isso nem sequer era cristão, porque era ter uma atitude meramente “espiritualista”, que desprezava o corpo, para só atender às necessidades da alma, como se esta estivesse desencarnada, neste mundo. Não. O Padre Brás era um homem completo – o Homem das três medidas, como lhe chamou um seu conterrâneo – entre elas, a medida de um homem que soube ser “padre-padre”, mas também ser “homem-homem”, “obcecado” pela realização completa da pessoa, chamada à vida plena com Deus, ou seja, à santidade. E porque via na família o “viveiro” da vida humana na sua totalidade, almejava, com todas as veras da sua alma, a santificação da família, logo a partir da sua génese – a sua constituição pelo sacramento do matrimónio –, e depois em toda a sua vida e missão.
Dizia ele: Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e assim criou também a família à imagem da Santíssima Trindade. E, como que extasiado a contemplar algo tão grandioso, exclamava: A grandeza da família! A Família tem em si mesma algo de divino… Donde concluía: A família cristã deve ser santa… Mais ainda: A família deve ser uma escola de santidade, de forma a que cada um dos seus membros seja um futuro habitante do céu.
Para prosseguir este objetivo, que sabia não poder alcançar sozinho, fundou, entre outras obras, o Instituto Secular das Cooperadoras da Família, em cujas Constituições deixou apontado o horizonte que divisava a seguinte meta: o fim primordial do Instituto é a santificação da família…
Mas se este era o fim, haveria que providenciar também aos meios, porque «sem meios não se atingem os fins». E que primordial e maior meio, do que apontar, desde logo, o modelo perfeito e a proteção segura da santificação familiar?
Foi o que fez o Padre Brás. Partindo da observação da realidade familiar que, já no seu tempo, começava a entrar em decadência de valores morais e religiosidade, lançava, no seu Jornal da Família, o repto: Não será a devoção à Sagrada Família o meio providencial para reformar a família? Que melhor meio do que pormos este modelo de Família cristã, diante dos olhos de todas as famílias? E continuava: Neste intuito e com este desejo, fazemos aqui o apelo a todas as famílias portuguesas, pedindo-lhes: – que se consagrem à Sagrada Família; – que tenham na sua sala de visitas, de trabalho, ou de jantar, um quadro com a Sagrada Família; – que rezem e habituem os filhos a fazer as suas orações de manhã e da noite, e a rezar o terço diariamente, diante deste quadro da Sagrada Família. A imagem da Sagrada Família entronizada em todos os lares, será uma pregação constante aos membros da família, será penhor de bênçãos divinas, será o sinal da devoção e amor a Jesus, Maria e José.
E apontava, desde logo, os resultados previsíveis desta devoção: as famílias fervorosas aprenderão a ser ainda mais perfeitas, [santas] as frouxas entrarão na vida de fervor, mas até as famílias que estejam em crise moral encontrarão remédio para os seus males na devoção a Jesus, Maria e José.
Neste mesmo intuito, o Padre Brás convidava também as famílias a celebrarem a Festa da Sagrada Família, escrevendo no Jornal da Família de dezembro de 1960: Festa da Sagrada Família: Procurem as famílias cristãs fazer desta a sua festa. Estudem, meditem e imitem as virtudes da Sagrada Família. Na imitação de Jesus, Maria e José encontrarão remédio salutar para as graves doenças de que atualmente a família sofre.
Como estamos, precisamente, neste mesmo mês de dezembro, tornemos atual, e tomemos como dirigido a nós, este apelo do Padre Brás: nas nossas paróquias, ou nalguma das casas do Instituto Secular das Cooperadoras da Família, onde se realize a festa da Sagrada Família, respondamos, Sim!, a mais este convite do Padre Brás, participando com toda a devoção na Festa de Jesus, Maria e José – a Trindade na Terra – o modelo perfeito das famílias cristãs.
Conceição Brites – Cooperadora da Família
Artigo da edição de dezembro de 2024 do Jornal da Família
Foto: Arquivo ISCF