No coração do desenvolvimento tecnológico moderno, a inteligência artificial (IA) surge como uma força poderosa, prometendo transformar diversos setores da sociedade. Contudo, a ética católica oferece uma lente valiosa para examinar o impacto desta revolução digital, pois ela enfatiza a dignidade humana, a justiça e a moralidade, que devem guiar o uso da IA.
É imperativo que a tecnologia sirva ao bem comum, respeitando a individualidade e os direitos de cada pessoa. No entanto, a aplicação desses princípios enfrenta vários desafios contemporâneos.
Primeiramente, a dignidade humana está em jogo. A IA, com a sua capacidade de processar e analisar grandes volumes de dados, deve ser utilizada de forma a valorizar as pessoas sem as tratar como meros objetos ou estatísticas, forçando a desumanização dos indivíduos.
A IA deve ser desenvolvida e implementada de forma a não perpetuar as desigualdades existentes ou criar novas. Os algoritmos podem refletir e amplificar preconceitos se não forem cuidadosamente projetados e monitorizados. Além disso, o acesso a tecnologias avançadas deve ser equitativo, garantindo que todas as camadas da sociedade possam beneficiar dos avanços, sem exacerbar as divisões socioeconómicas.
A privacidade é um direito fundamental que a ética católica defende com vigor. Num mundo em que os dados pessoais são coletados e analisados em larga escala, proteger a privacidade dos indivíduos é crucial. As informações sensíveis devem ser geridas com o máximo respeito e segurança, evitando abusos e usos indevidos que possam prejudicar as pessoas.
Por outro lado, existem perspetivas promissoras no horizonte. A ética católica propõe que a IA deve ser desenvolvida dentro dum plano ético robusto, no qual a transparência e a responsabilidade são pilares centrais. É vital que as decisões automatizadas sejam compreensíveis e que os responsáveis por elas possam ser identificados e responder pelas suas ações.
Ademais, a IA pode ser uma força tremenda para o bem comum. Nos setores como saúde e educação, ela tem o potencial de fazer avanços significativos, melhorando a qualidade de vida e promovendo o desenvolvimento humano. A chave está no uso responsável e ético dessas ferramentas, sempre com o foco no bem-estar coletivo.
Para garantir que a IA avance de maneira que beneficie a todos, é essencial um diálogo contínuo entre os diversos campos do saber. Cientistas, teólogos, filósofos e especialistas em ética devem trabalhar juntos para abordar os desafios emergentes e guiar o desenvolvimento da IA em direção a um futuro mais justo e humano.
A integração da ética católica no desenvolvimento e uso da IA é crucial para garantir que esta poderosa tecnologia respeite e promova os valores humanos e sociais. Os desafios são muitos mas, com compromisso e visão, é possível criar um futuro onde a IA sirva verdadeiramente ao bem comum.
Murillo Missaci
missacimb@gmail.com
Artigo da edição de janeiro de 2025 do Jornal da Família
Foto: Pixabay