Na multifacetada ação social que desenvolveu, uma intuição pedagógica ganhou relevo na vida do Pe. Brás. Este sacerdote viu a formação como meio de prevenção, qualificação e proteção. Para além de desenvolver as potencialidades e capacidades da pessoa, no pensar do Pe. Brás, a formação elevava a qualificação humana, espiritual, profissional e cívica. Uma pessoa bem formada e informada tem mais possibilidades de se proteger e defender de todo e qualquer atentado contra a sua dignidade; fica mais apta a conhecer e discernir quais os caminhos menos dignos; defende-se mais facilmente das ciladas, por vezes tão sedutoras e subtis, e consegue uma melhor integração e intervenção social.
A sua confiança e apreço nas potencialidades de uma sólida formação teórico/prática, ‘aguçou’ o seu ‘engenho’ para criar meios que facultassem a muitos o acesso a essa formação, meios a que só certas elites, da época, tinham acesso. A consciência da escassez de meios neste domínio, inquieta-o e por isso afirma: “Portugal há de vir a ser mais doutrinado, mercê deste pouco que generosamente lançamos por todas as vias de comunicação pelas cidades, vilas e aldeias” (Pe. Brás).
Fundou o Jornal a Voz das Criadas, em março de 1934, mais tarde Bem-Fazer (atual suplemento do Jornal da Família), o Almanaque de Santa Zita, em 1941, entre outros subsídios e publicações de menor relevo e dimensão, mas não de menor impacto a nível da multifacetada ação por ele desenvolvida, com várias faixas etárias e classes sociais.
A imprensa escrita, como ele próprio o expressa, constituiu para ele uma arma poderosa que não se circunscreve à sua Obra, mas tem possibilidades de chegar bem mais longe: “Sabemos que a imprensa é uma arma poderosa. Pode ser de tragédia ou de salvação, consoante quem a usa” (Pe. Brás). Para ele a boa imprensa é determinante na formação e transformação dos indivíduos e das sociedades, daí a urgente necessidade de a tornar mais acessível para que, através dela, se possa formar e informar, em maior escala. Não se cansava de incutir este espírito em todas as suas colaboradoras e colaboradores. Para ele, estes mesmos meios, serviriam para levar mais longe a sua Obra, atingir mais pessoas e entrar em mais lares.
No contacto direto com esses milhares de jovens raparigas que iam passando pela Obra de Santa Zita (OSZ), e com outras pessoas, o Pe. Brás constatava, com tristeza, mas também com espírito empreendedor, um elevado grau de iliteracia aos vários níveis; nessa constatação intui a grande carência de formação das Famílias, pois os filhos são reflexo daquilo que os pais lhes conseguem dar e transmitir.
Para colmatar esse vazio, lançou em 1960 o Jornal da Família com o propósito claro de informar, formar e instruir as famílias nas diferentes dimensões da sua vida, ação e missão, como ele afirma: “O Jornal da Família consagrando a sua existência a promover o bem da família, está a promover o bem da Igreja e da Sociedade” (Pe. Brás). Desejava que este fosse de apoio à economia familiar, aos seus deveres de pais e esposos; às dinâmicas relacionais entre os diferentes membros da Família e que veiculasse conteúdos de caráter moral, cívico e religioso, a fim de que os pais se pudessem formar e educar melhor os seus filhos. As suas iniciativas revelam sempre esta visão alargada e integradora das diferentes realidades.
Com 65 anos de idade, o Jornal da Família adaptou-se às plataformas digitais, mas continua a ser fiel aos seus assinantes que o continuam a receber na edição impressa. Consciente de que é uma gota de areia, no ‘mar’ da panóplia dos meios de Comunicação Social atuais e das possibilidades que oferecem a todos, o Jornal da Família, quer continuar a dar o seu contributo para um mundo melhor, defendendo e sendo veículo dos valores da Família, em fidelidade aos seus critérios editoriais e em conformidade com as coordenadas socioculturais e eclesiais dos tempos atuais e da realidade familiar, como era desejo do seu Fundador: “Em coro com todas as pessoas de bem quer estar o Jornal da Família para que, dentro das suas possibilidades, coopere e colabore para um Mundo Melhor” (Pe. Brás). Continua a ser um meio, entre outros, de realização do Carisma das Cooperadoras da Família.
E como diz o ditado, não há acasos, os 65 anos deste órgão acontecem dentro do jubileu (100 anos) da Ordenação Sacerdotal do seu Fundador, trata-se de uma coincidência maravilhosa a relembrar e a ressaltar.
Conceição Vieira
Artigo da edição de janeiro de 2025 do Jornal da Família
Foto: Arquivo ISCF